Nanopartículas usadas em dentrifícos provocam alterações no fígado do pregado
Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) concluíram que a ingestão de nanopartículas de dióxido de titânio, usadas na composição de produtos de higiene e dentífricos, provoca alterações celulares no fígado do pregado, foi ontem anunciado.
Em comunicado, o centro da Universidade do Porto adianta que a investigação permitiu compreender o impacto das nanopartículas de dióxido de titânio na aquacultura e no meio marinho.
As nanopartículas de dióxido de titânio integram a composição de vários produtos, como protetores solares, cremes e pastas dos dentes.
Em declarações à Lusa, a investigadora Elza Fonseca explicou que a avaliação do impacto destas nanopartículas é “essencial para garantir a viabilidade dos ecossistemas marinhos”.
“A utilização inevitável de nanopartículas nas nossas vidas enquanto consumidores e a subsequente presença no meio ambiente faz-nos questionar quais as implicações para os organismos aquáticos, incluindo aqueles criados em aquacultura, e consequentes riscos associados ao consumo de produtos contaminados”, salientou.
Publicado no Journal of Hazardous Materials, o estudo procurou analisar os diferentes efeitos provocados pela ingestão destas nanopartículas em pregado, uma espécie produzida em aquacultura e com interesse comercial.
A equipa analisou o efeito da ingestão de nanopartículas de dois tamanhos diferentes e quantificou a presença nos tecidos expostos e não expostos dos peixes.
“Não houve mortalidade, nem se observaram diferenças comportamentais” nos dois grupos que ingeriram as nanopartículas, esclareceu.
Os investigadores decidiram ainda avaliar o estado do fígado do pescado, dado o papel fundamental deste órgão na destoxificação.
“Embora tenham ocorrido alterações ao nível do fígado há lugar para boas notícias”, destaca o CIIMAR, esclarecendo que apesar das nanopartículas estarem cada vez mais presentes no ambiente, “parecem não ser tão tóxicas” como as nanopartículas de prata, uma vez que “os peixes têm a capacidade de excretar estas substancias através das fezes”.
“O facto de estas nanopartículas não acumularem nos tecidos examinados não significa que não perturbem o equilíbrio do organismo até serem excretadas”, referiu Elza Fonseca, alertando para a necessidade de não se desvalorizar a presença destas nanopartículas no ambiente.
A investigação foi desenvolvida ao abrigo do projeto Nanoculture, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do Programa Interreg Espaço Atlântico.