Natureza é oportunidade de investimento de 1,2 biliões de dólares ao ano até 2030 para o setor privado



A preservação da natureza, que é algo mais abrangente do que a luta contra as alterações climáticas e engloba a proteção de habitats, biodiversidade, entre outros, requer um investimento anual do setor privado estimado em 1,2 biliões de dólares ao ano até 2030, segundo o estudo “Nature Is Banking’s Next Opportunity”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG).

Segundo a mesma fonte, deste valor, 320 mil milhões de dólares devem ser investidos diretamente em ações de preservação da natureza, como a prática de agricultura regenerativa, e 869 mil milhões em ações adjacentes, como o desenvolvimento de infraestruturas eficientes e sustentáveis de gestão de água e de resíduos.

As regulamentações para a preservação dos ecossistemas naturais, especialmente na Europa, têm sido reforçadas, obrigando as organizações a divulgar os riscos e oportunidades relacionados com a natureza e os impactos da sua atividade na mesma.

Neste sentido, o investimento na sua proteção pode trazer benefícios e retornos financeiros às empresas, e as instituições pioneiras no seu financiamento podem obter vantagens competitivas, reforçando o seu negócio principal e destacando-se no mercado.

“A preservação da natureza é, cada vez mais, uma prioridade no setor empresarial e, por isso, deve ser encarada como oportunidade de mercado a longo prazo, carecendo de um aumento do investimento privado”, afirma Pedro Pereira, Managing Director e Senior Partner da BCG em Lisboa, citado em comunicado.

“Os bancos, enquanto principais fontes de capital, estão em posição privilegiada para fornecer o financiamento necessário, colaborando de perto com os clientes em ações de proteção da natureza, fortalecendo a sua posição no mercado e garantindo uma vantagem competitiva enquanto pioneiros neste tipo de investimento”, acrescenta.

De acordo com o Fórum Económico Mundial, mais de metade do Produto Interno Bruto (PIB) mundial total, isto é, cerca de 44 biliões de dólares, está moderadamente ou fortemente dependente da natureza. Como a deterioração da mesma impacta diretamente as empresas e é necessário mobilizar uma avultada quantia de capital privado para a área, os bancos têm aqui uma oportunidade de negócio apelativa.

Para um banco líder no mercado, o financiamento e o investimento em ações para promover a preservação da natureza pode gerar um aumento de até 250 milhões de dólares em receitas. Este valor baseia-se na contribuição das receitas das atividades relacionadas com a natureza nos mercados de capitais e nas operações de crédito, sendo que cerca de 80% da atividade bancária é realizada através do financiamento dos mercados de capitais e 20% através de empréstimos e financiamento direto de projetos.

Embora a preservação da natureza seja uma oportunidade de investimento, os bancos enfrentam tanto barreiras governamentais, pela falta de incentivos, como operacionais, as quais assentam em cinco principais fatores.

Primeiramente, existem preocupações com o retorno económico, uma vez que os projetos relacionados com a natureza têm prazos de financiamento mais longos, os seus retornos a curto prazo são incertos e menos atrativos para os bancos e para os investidores tradicionais.

Em segundo lugar, há um desfasamento entre os perfis de risco dos projetos no âmbito da natureza e a predisposição dos investidores para o aceitar.

Depois, a contínua mutação dos ecossistemas naturais, com o envolvimento de novos atores e o surgimento de diversos regulamentos, contribui para uma falta de clareza quanto ao papel de cada interveniente nos investimentos e ações neste ecossistema.

Além disso, os investimentos e ações de conservação da natureza circunscrevem-se a áreas específicas, o que limita a sua escalabilidade, devendo ser agregados através de obrigações de impacto ambiental, fundos e parcerias público-privadas. Finalmente, há ainda pouca sensibilização e formação nos bancos para gerir as necessidades dos clientes em relação a projetos de investimento na natureza, dificultando a sua execução.

 

Três estratégias para os bancos capitalizarem a preservação da natureza
A criação de estratégias para os bancos capitalizarem a preservação da natureza parte de uma avaliação prévia da importância que os clientes dão aos investimentos em natureza e dos respetivos planos de ação nessa área. Ademais, é necessário apostar na formação e consciencialização das equipas para encarar a natureza como oportunidade de mercado, desenvolvendo serviços e recursos especializados nessa área. Em concreto, a BCG destaca três ações-chave que os bancos devem adotar para lucrar com a preservação da natureza, ultrapassando as barreiras e ganhando competitividade:

  • Apoiar políticas governamentais estratégicas. Através do apoio a projetos governamentais, como incentivos a práticas sustentáveis e subsídios para soluções baseadas na natureza, os bancos contribuem para a aceleração das ações em prol da natureza, ganhando competitividade no mercado e posicionando-se como pioneiros e parceiros na sua valorização e proteção.
  • Estabelecer parcerias estratégicas de mitigação de riscos. Os bancos devem aliar-se aos governos para identificar estratégias de mitigação de riscos, desenvolvendo modelos de financiamento misto, em que os fundos públicos são utilizados para atrair investimento privado, reduzindo assim os riscos. Deste modo, estas instituições financeiras lucram enquanto principais parceiras privadas dos governos, posicionando-se como líderes nos seus mercados.
  • Colaboração com o ecossistema. As instituições bancárias devem estabelecer parcerias com Organizações Não Governamentais (ONG’s), associações promotoras de iniciativas e atores interessados em projetos que viabilizem economicamente os investimentos na preservação da natureza. Os bancos podem ainda apostar no financiamento de projetos de grande escala, como a recuperação de bacias hidrográficas ou iniciativas de gestão sustentável das pescas, que servirão como estudos de caso sobre como gerar retornos sólidos a partir de investimentos na natureza.

O artigo está disponível na íntegra aqui.

 





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