Nélia Câmara, Mercer: “Igualdade de género, uma questão de sustentabilidade ou uma moda?”



“A IGUALDADE DE GÉNERO É HOJE UM TEMA BASTANTE ACTUAL NAS ORGANIZAÇÕES, seja este gerido de forma activa ou não. Será apenas uma moda? Será que com o tempo a igualdade de género deixará de estar presente nas agendas porque já não é tema?

Acredito que um dos factores principais para que passasse a ser um tema actual e na moda decorre do facto de as empresas já não poderem ignorar as evidências: um maior equilíbrio entre homens e mulheres em lugares de gestão tem uma correlação forte e directa com melhores resultados nas empresas.

Mas porque é que, não obstante os esforços das empresas e dos governos em promover a igualdade de género, não estamos a obter resultados mais rápidos? De acordo com o estudo “Women Thrive, Business Thrive”, o número de mulheres em cargos mais elevados deverá manter-se semelhante nos próximos anos (26% em 2024 versus 24% em 2014) nos Estados Unidos e Canadá, ou seja, aquém do que seria desejável. Em contrapartida, estima-se que na Europa a situação será diferente – de 18% para 47% em 20 anos, ou seja, uma situação finalmente próxima daquilo que consideramos a igualdade de género.

Que podemos fazer nas nossas organizações para que a igualdade seja um facto e para que possamos acelerar esta trajectória?

Com o avanço significativo da neurociência nos últimos anos, hoje sabemos que existe uma razão científica para homens e mulheres terem competências diferentes e únicas. De acordo com o estudo da Mercer, as empresas que reconhecem essas diferenças e tiram benefício das mesmas são aquelas que estão a aproveitar da melhor forma o talento feminino disponível estando melhor posicionadas hoje quanto à igualdade de género.

O estudo sugere que o primeiro mecanismo que as empresas têm que adoptar é efectivamente aceitar que existe um problema e não ter receio de o enfrentar. Já fez recentemente análises para comprovar que de facto a igualdade existe na sua organização? Os números contam sempre pelo menos uma parte da história e, por vezes, podem mesmo surpreender. O estudo da Mercer comprova que, por exemplo, quando existem equipas dedicadas a monitorizar as diferenças salariais entre homens e mulheres para as mesmas funções, então essas diferenças tendem a desaparecer e a representação das mulheres em cargos de gestão aumenta.

Quando atingirmos a igualdade de género, será fácil manter essa situação? Acredito que sim. A trajectória agora é difícil e/ou mais lenta porque envolve questões culturais, a forma como educamos os nossos filhos (e nós as mulheres somos as principais responsáveis). Quando a igualdade de género estiver finalmente no ADN de todas as actuais gerações, deixará de ser um tema prioritário para ser um tema óbvio e crucial para as empresas. Entretanto, espero que surja finalmente a moda de nos preocuparmos também em promover a igualdade de género à entrada e saída das universidades – no futuro não desejamos ter uma força de trabalho qualificada desequilibrada simplesmente porque a percentagem de homens com licenciatura é inferior e, por conseguinte, com menor probabilidade de acesso a lugares de topo.”

Nélia Câmara é gerente da Mercer Portugal





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