Nemátodos usam campos elétricos para apanharem ‘boleia’ de polinizadores



O oportunismo é uma abordagem seguida por várias espécies na Natureza, sobretudo como forma de gastar menos energia para percorrer longas distâncias. O nemátodo Caenorhabditis elegans é um desses ‘viajantes oportunistas’ e uma nova investigação científica revela que podem usar campos elétricos para apanharem ‘boleia’ de polinizadores como os abelhões.

Neste vídeo, uma larva de C. elegans, em laboratório, ‘salta’ para o corpo de um abelhão (Bombus terrestris) através de um campo eletrostático.

Takuma Sugi, da Universidade de Hiroshima e um dos autores do artigo publicado na revista ‘Currente Biology’, explica que “os polinizadores, como insetos e beija-flores, são conhecidos por terem cargas elétricas, e acredita-se que o pólen é atraído pelo campo elétrico formado pelo polinizador e pela planta”.

A eletricidade estática criada pela interação entre polinizador e planta permite, como agora se comprova, que outros animais terrestres possam tirar partido disso e mover-se de um lado para o outro sem gastarem demasiada energia.

Os cientistas começaram a observar esse comportamento peculiar em laboratório, quando espécimes de C. elegans colocados em placas de Petri eram encontrados na tampa do contentor, ao invés de na substância gelatinosa agar na qual tinham sido colocados. Depois de colocarem uma câmara para perceberem o que se estava a passar, o mistério foi revelado, e perceberam que os nemátodos não estavam a chegar até à tampa ao escalarem as paredes da placa de Petri, mas estavam sim a ‘saltar’ diretamente para a tampa.

Para testarem a teoria de que os C. elegans se moviam por campos eletrostáticos, os cientistas recorreram a um abelhão ao qual incutiram uma carga elétrica natural através de grãos de pólen. Quando estes insetos estavam perto dos nemátodos, os vermes erguiam-se nas suas partes traseiras e usavam o campo elétrico do abelhão para ‘saltarem’ para o corpo desses animal.

Os investigadores notaram até que alguns nemátodos formavam pequenas colunas no ar, podendo ser constituídas por até 80 indivíduos, para se aproximarem do polinizador, que inadvertidamente os acabava por transportar a todos.

Já se sabia que os C. elegans se juntavam a outros animais, como caracóis, para viajarem distâncias mais longas, mas era ainda desconhecido como eram capazes de aproveitar o voo de insetos, sobretudo porque não medem mais do que um milímetro de comprimento. Agora sabe-se que usam atração eletrostática para ‘apanharem’ boleia dos polinizadores voadores.

Os cientistas reconhecem, contudo, que ainda são precisos mais trabalhos para que se possa realmente compreender como é que o C. elegans é capaz de usar os campos elétricos para se ligar a outros animais, mas acreditam que a capacidade para detetar campos elétricos é fundamental.





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