“Nível inesperadamente elevado” de tráfico de tarântulas e escorpiões nas Filipinas através das redes sociais

Alvos de repulsa por alguns e protagonistas nos pesadelos de outros, os aracnídeos, grupo que inclui invertebrados que tipicamente têm oito patas (aranhas, escorpiões e ácaros), são, paradoxalmente, apreciados por muitos como animais de estimação exóticos.
Uma investigação da organização não-governamental Traffic, publicada recentemente na revista ‘Journal of Nature Studies’, revela “um nível inesperadamente elevado” de tráfico de espécies ameaçadas e endémicas de tarântulas e escorpiões nas Filipinas. Parte desse comércio ilegal ocorre nas redes sociais, como o Facebook.
Os especialistas selecionaram cinco grupos nessa plataforma, criados nas Filipinas, que se especializam no comércio de aracnídeos vivos, e monitorizaram as suas atividades entre 2020 e 2022.
Num total de 6.600 publicações nesses grupos, foram identificadas, pelo menos, 14.662 tarântulas de 135 espécies e 1.387 escorpiões de 25 espécies. A grande maioria das publicações visavam tarântulas.
A espécie de tarântula mais publicitada foi Tliltocatl albopilosus (também conhecida como pelo nome científico Brachypelma albopilosum), com o registo de 1.176 indivíduos. Esta espécie é originária da Costa Rica e da Nicarágua e está protegida ao abrigado da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), integrada no Apêndice II, que inclui espécies que podem ser empurradas para o limiar da extinção se o seu comércio não for devidamente regulado, pelo que só pode acontecer mediante autorização das autoridades nacionais com competências sobre a gestão e conservação da Natureza.

A tarântula Tliltocatl albopilosus, classificada como “Pouco preocupante” na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza, é especialmente atrativa e, por isso, procurada como animal de estimação por ter um aspeto “felpudo” e um corpo robusto. Com uma tendência populacional em declínio, a perda de habitat e a captura para tráfico são das principais ameaças.
Por outro lado, a espécie de escorpião mais publicitada para vende nesses cincos grupos no Facebook foi a Heterometrus longimanus, com 373 identificados. Uma espécie nativa das florestas asiáticas, é muito procurada pelo seu tamanho (pode chegar aos 12 centímetros de comprimento) e por ser facilmente criada em cativeiro.
De um total de 42 espécies de aracnídeos regulados pela CITES, 28 espécies de tarântulas e uma de escorpião foram registadas neste estudo, comercializadas ilegalmente, isto é, sem as autorizações exigidas ao abrigo dessa convenção.
Algumas espécies de aracnídeos ocorrem só num determinado local, são raras ou ainda não foram devidamente estudadas e avaliadas. Sem saber o estado das suas populações, aumenta o risco de serem sobre-exploradas e de desaparecerem sem que se dê conta disso. Por exemplo, a tarântula Phlogiellus johnreylazoi estava já a ser vendida em mercados nacionais e internacionais antes de ter sido descrita cientificamente como uma nova espécie em 2016.
Segundo o estudo, registaram-se mais de mil contas únicas de Facebook a venderem aracnídeos nesses cincos grupos, com os vendedores mais ativos localizados em Lução (ou Luzon), a maior ilha do arquipélago filipino.