No sexo dos mosquitos, as fêmeas é que mandam
Vetores de doenças como a dengue, a febre amarela e a malária, os mosquitos são por muitos considerados pragas e ameaças à saúde pública.
Apesar de serem insetos aos quais raramente devotamos mais do que alguns segundos de pensamento (a não ser numa noite quente de verão em que um esteja a zumbir pelo nosso quarto), os mosquitos são animais que ainda escondem alguns segredos. Um deles está relacionado com o papel das fêmeas na cópula.
Com uma esperança média de vida relativamente curta (de algumas semanas a poucos meses, consoante a espécie), a reprodução nos mosquitos é um evento de elevada importância, especialmente porque as fêmeas só acasalam uma vez na sua vida. Acasalam uma só vez, mas reproduzem-se várias vezes, ao armazenarem no seu corpo o esperma do macho com o qual copularam.
Durante muito tempo pensava-se que as fêmeas de mosquitos aceitavam passivamente os avanços de qualquer macho, mas essa ideia foi agora desfeita por um grupo de cientistas da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos da América.
A equipa partiu daquilo que considerava ser um paradoxo: se as fêmeas não têm poder de decisão, por que razão é que vários machos não acasalam com elas durante o seu tempo de vida?
Num artigo publicado esta semana na revista ‘Current Biology’, os investigadores mostram que, afinal, são as fêmeas quem dita as regras do jogo e são elas que decidem se há ou não cópula com dado macho que delas se acerca com o intuito de acasalar. Depois de ter recebido o esperma do macho, a fêmea de mosquito não volta a copular, independentemente da insistência dos pretendentes.
“Na biologia há muito que se assume que os machos têm a agência e que as fêmeas são passivas”, diz, em comunicado, Leslie Vosshall, principal coautora. “Este estudo lembra-nos que essas suposições podem impedir a compreensão daquilo que está realmente a acontecer, mesmo em algo bem estudado como a reprodução dos mosquitos”.
Esta investigação centrou-se em duas espécies de mosquitos: os mosquitos-da-febre-amarela (Aedes aegypti) e o mosquito-tigre-asiático (Aedes albopictus). Em laboratório, usaram técnicas de manipulação genética para tornar fluorescente o esperma dos machos. De seguida, usando câmaras de alta velocidade e de alta resolução, filmaram as interações entre machos e fêmeas.
Quando os machos tocavam com a ponta dos seus genitais nos órgãos genitais de uma fêmea que ainda não tinha copulado na sua vida, ela, se o aceitar, estendia os seus genitais, para permitir a transferência de esperma, num processo que não demorava mais do que meio minuto. Os cientistas dizem que esse alongamento dos órgãos genitais da fêmea é crucial, pois, se isso não acontecer, não há cópula, por muito que o macho possa tentar. Assim, são as fêmeas quem decide se há ou não acasalamento, e não o macho.
No caso das interações entre machos e fêmeas que já copularam algures na sua vida, não há o alongamento dos órgãos genitais femininos e, por isso, não há cópula.
O mesmo comportamento foi registado em ambas as espécies de mosquitos, que divergiram uma da outra há cerca de 35 milhões de anos, pelo que os investigadores dizem que o controlo feminino sobre a reprodução é algo que nos mosquitos acontece há muito.