Nova espécie de planta descoberta no Japão é também o primeiro novo género em quase 100 anos
Numa floresta nas montanhas Kimotsuki, na província de Kagoshima, no sul do Japão, foram descobertos, ao mesmo tempo, um novo género e uma nova espécie de planta. Acredita-se que seja o primeiro novo género encontrado no país em quase um século.
Trata-se de uma planta da família Thismiaceae, e essas espécies não obtêm energia através de fotossíntese, mas sim do parasitismo, alimentando-se dos nutrientes e da energia que circulam nos micélios, ou seja, nas redes de filamentos criadas pelos fungos no solo.
Por isso, não são plantas que sejam facilmente encontradas, pois costumam viver escondidas sob a vegetação morta, onde estarão também as suas fontes de alimento. Além disso, são raras. Até agora, são conhecidas apenas 100 espécies da família Thismiaceae, e muitas delas só foram avistadas uma vez, na altura da sua descoberta, e nunca mais depois disso.
De vez em quando, produzem flores que denunciam a presença da planta debaixo da matéria vegetal em decomposição que cobre o chão da floresta. Essas estruturas pouco ou nada se parecem com as flores a que podemos estar habituados, mas algumas delas assemelham-se a pequenos trabalhos de vidro. É por isso que essas plantas são conhecidas, na língua inglesa, como fairy lanterns, ou ‘lanternas de fadas’, numa tradução direta.
Kenji Suetsugu, botânico da Universidade de Kobe, recebeu um espécime de uma planta Thismiaceae, que lhe foi enviado, da província de Kagoshima, por um naturalista amador, em junho de 2022. O investigador percebeu, após uma primeira análise, que estava perante um exemplar de um género totalmente novo dentro dessa família de plantas. Por isso, viajou até ao local para recolhe mais espécimes.
Quando lá chegou não encontrou quaisquer outros exemplares. Contudo, um ano depois, regressou ao local e teve sorte: recolheu mais três espécimes da misteriosa nova planta.
Num artigo publicado na revista ‘Journal of Plant Research’, Kenji Suetsugu e outros três investigadores dizem que, de facto, não é apenas uma nova espécie, mas também um género totalmente diferente de todos os que são conhecidos da família Thismiaceae. Por isso, batizaram-na com o nome científico Relictithismia kimotsukiensis.
Uma das características que a distingue dos outros géneros conhecidos é, por exemplo, o facto de os seus estames, as estruturas masculinas da planta, estarem em contacto direto com o próprio estigma, a entrada da estrutura feminina (o carpelo) onde germinam os grãos de pólen.
Os investigadores dizem que essa adaptação, que facilita a autopolinização, poderá ser vantajoso para uma planta que habitualmente vive debaixo de folhas caídas em florestas escuras, onde a visita dos animais polinizadores não é garantida.
Apesar de a flora do Japão ser relativamente bem conhecida, Kenji Suetsugu diz que a descoberta da R. kimotsukiensis sugere que muitas outras espécies podem estar escondidas em regiões que se pensa estarem suficientemente exploradas.
Como a R. kimotsukiensis não foi encontrada ainda em qualquer outro lugar, os investigadores consideram que, dada a sua distribuição limitada e a sua dependência dos fungos, poderá estar especialmente vulnerável a alterações nas condições ambientais, fruto das alterações climáticas ou de perturbações e impactos humanos diretos no seu habitat.