Nova técnica ecológica de fertilizar os solos chega a Portugal
Chegou a Portugal uma nova técnica de fertilização dos solos baseada na reciclagem duma matéria-prima muito usual, mas por vezes desvalorizada: os ramos das árvores. O método tem como nome Bois Raméaux Fragmentés (BRF) ou, em português, Aparas de Ramos Fragmentados.
A técnica pretende fomentar o crescimento e desenvolvimento de plantas sãs e resistentes e produtos comestíveis mais saborosos. O solo torna-se mais saudável, pelo que permanece mais húmido, o que também permite reduzir a quantidade de regas. Segundo revela Catherine Roque ao Green Savers, uma entusiasta de BRF, “os solos degradados recuperam vida e fertilidade”.
Mas como funciona afinal este processo? Na verdade, é bastante simples: basta recolher ramos novos – são os mais ricos em nutrientes –, parti-los ou triturá-los e aplicá-los no solo durante o Inverno. “Esta operação favorece um fenómeno natural importantíssimo e é muitas vezes desprezada”, adianta Catherine.
Acontece que o fungo mycelium ataca mais depressa a lignina dos ramos fragmentados. Através desta prática, vão assim desenvolver-se micorrizas no solo – uma simbiose entre fungos e raízes que favorece toda a cadeia de vida da terra e a retenção de água.
A matéria-prima de todo este processo é unicamente ramos provenientes de podas – estão presentes em todo o lado, pelo que é possível a qualquer pessoa colocar a técnica em prática. Catherine explica que existe quem triture os resíduos verdes e forneça depois a matéria vegetal já moída aos utilizadores. “Espalha-se imediatamente por cima da terra e deixa-se trabalhar a natureza.”
“Esta técnica não pretende substituir a compostagem nem outras de cultivo mas, quando aplicada correctamente, tem uma grande utilidade enquanto fertilizante, mulch e herbicida”, explica a agricultora. Os ramos têm-se também revelado muito úteis na reconstituição de solos degradados pela agricultura química.
Trata-se de um método extremamente ecológico, já que os ramos das podas, que acabam tantas vezes queimados, ganham desta forma um valor suplementar.
As raízes
O método foi descoberto há cerca de 30 anos no Canadá, daí partiu para a Bélgica e depois para França, onde já é praticado há 10 anos. Já chegou a Portugal, onde ainda é praticado a uma pequena escala.
Há três pessoas que, publicamente, utilizam esta técnica: trata-se de um habitante de Tavira, que compra o material triturado para colocar na sua horta; uma entusiasta da agricultura biológica no Alentejo, que já tem o seu próprio triturador e a própria Catherine, em Palmela, que o usa como forma de fazer prosperar uma terra pobre e seca.
Foi graças à divulgação de Jacky Dupety em França, em 2005, que produtores de frutas e legumes, proprietários de hortas e jardins, empresas de jardinagem e até departamentos de espaços públicos se renderam à técnica natural.
Dupety foi o primeiro a aplicar o método numa zona bastante árida do sul de França. É engenheiro ambiental e autor de livros sobre BRF. Dedica-se à agricultura, dá formações e palestras, amplamente divulgadas na internet, sobre o método de fertilização e acabou por criar uma associação destinada a divulgá-lo.
Jacky Dupety prepara-se para visitar Portugal em Maio para partilhar a sua experiência em três conferências de entrada livre. Os eventos vão acontecer a 13 de Maio, na Biblioteca de Palmela, a 15 de Maio, na Escola de Agricultura de Beja e a 18 de Maio, na Junta de Freguesia de Conceição de Tavira.
Aventure-se nesta forma ecológica e inovadora de nutrir os solos e colha os frutos da experiência.