Nova técnica vai permitir ler os livros descobertos nas ruínas perto de Pompeia



Em 79 d.C, a erupção do vulcão Vesúvio destruiu completamente a antiga cidade de Pompeia, a 22 quilómetros de Nápoles, em Itália, depois de uma intensa chuva de cinzas que acabou por sepultar e cobrir a cidade.

Apesar da grande dimensão do desastre natural, Pompeia manteve-se oculta durante 1600 anos, tendo sido encontrada – ou reencontrada – por acaso, em 1748. As cinzas e a lama protegeram as construções e os objectos da cidade antiga, mas muitos deles, como os livros, acabaram por ficar inutilizados. Até agora.

As primeiras tentativas de recuperar todos os textos clássicos nos mais de 2000 livros descobertos na cidade italiana remontam a 1752, através dos esforços do artista Camillo Paderni, que ficou responsável pela grande quantidade de antiguidades recuperada de Herculaneum, cidade vizinha de Pompeia e que foi atingida pelo vulcão.

Segundo o Economist, muito dos papiros encontrados estavam tão frágeis que se desfizeram ao toque humano. Dos 1100 que sobraram – de um total de 2000 livros – alguns continuaram a ser abertos até que algumas letras fossem encontradas. Paderni utilizou uma faca para os separar e, com a ajuda de António Piaggio, um conservador do Vaticano, conseguiu construir uma espécie de cabide que deixava as folhas suspensas através de um fio de seda, deixando as folhas desenrolaram-se com o seu próprio peso, por vezes, durante meses. Ainda assim, muitos dos textos acabaram por se quebrar em pedaços.

Já no século XX, cientistas noruegueses tentaram aplicar um adesivo à base de gelatina, que encolhe quando seca, descamando camadas de pergaminhos durante este processo. Porém, esta técnica deixou muitos dos pergaminhos em fragmentos – alguns podem ser lidos ao olho nu, outros precisam de máquinas especiais.

Este ano, porém, um estudo publicado por Vito Mocella, do Institute for Microelectronics and Microsystems de Nápoles, descreve uma forma de os decifrar sem os desenrolar. Publicado na revista Nature, o estudo utiliza um raio-x especial construído na European Synchrotron Radiation Facility (ESRF) de Grenoble, França, que põe em prática uma técnica de imagem constrante, que funciona porque a tinta dos pergaminhos não foi absorvida pelo papiro mas, ao invés, encontra-se em cima deles, em forma de relevo.

Ou seja, o raio-x demora um pouco mais de tempo a atravessar a parte do papiro que tem a tinta, em relação à que não tem. Esta diferença só é detectada, porém, com o feixe gerado pelo ERSF, que detecta esse ligeiríssimo relevo – 100 milésimos de milímetro.

Mesmo assim, dado o comprimento da folha de papiro (até 15 metros) e a pequena espessura de cada camada enrolada e o tamanho das letras, nada garantia o resultado.

No entanto, a experiência foi um sucesso: numa amostra de um papiro de Herculaneum enrolado, os cientistas conseguiram detectar todas as letras (menos duas) do alfabeto grego. E até sequências de letras que poderão ser palavras que significam “cairia” ou “diria”.

A livraria é composta, na maioria, por tratados de filosofia de Epicuro – e pelo menos 44 dos papriros são de um único autor, Filodemo. Segundo os investigadores, existem cerca de 200 livros que permanecem intocados, e são estes que estão a ser pesquisados por Mocella.

Epicuro, por exemplo, escreveu um tratado de 37 volumes sobre o empirismo, chamado Da Natureza – talvez a mais minuciosa referência clássica à noção moderna da aprendizagem através da experiência. Fragmentos de dez dos volumes foram encontrados noutros locais próximos de Pompeia, por isso existe uma boa hipótese de que alguns destes se encontrem nos fragmentos não examinados.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...