Numa economia obcecada com o crescimento, é preciso reduzir o consumo
Para o analista de circularidade Jon Smieja, a hierarquia de resíduos zero da Zero Waste International Alliance é atualmente a melhor representação dos métodos que podemos utilizar para passar da nossa atual economia linear e desperdiçadora para uma em que os materiais estão a ser repensados a montante e intercetados a jusante para os manter em uso.
No modelo, explica Jon Smieja num artigo publicado no “Greenbiz”, começamos no topo do funil, “repensando e redesenhando os nossos produtos para aumentar o seu potencial de circularidade”. A seguir,” e muito importante”, reduzimos o nosso consumo. Depois destas são todas as atividades a jusante que podem manter os materiais em uso por mais tempo. Se tudo o resto falhar, a hierarquia “é instrutiva sobre como eliminar os produtos e materiais da melhor maneira possível. Representar as atividades a montante na mesma hierarquia das atividades a jusante é uma das razões pelas quais sou atraído para este modelo”, sublinha.
A segunda camada da hierarquia, a redução, acrescenta, “é onde quero centrar hoje a minha atenção. Penso que a redução é tanto a intervenção mais difícil como a mais importante em que as empresas podem participar”.
Porque é que a redução é difícil?
Para Jon Smieja, a redução “só existe nas margens do vocabulário empresarial e quase nunca é pensada como um motor de receitas. Passei tempo suficiente a trabalhar na América empresarial para saber que a necessidade de lucros cada vez maiores é quase exclusivamente falada através da lente de tirar quota de mercado aos concorrentes e/ou fazer crescer o mercado em geral”. As outras alavancas do aumento da rentabilidade, tais como ganhos de eficiência, novos modelos de negócio e redução de resíduos, são frequentemente discutidas pela equipa de sustentabilidade ou de operações, mas “não estão frequentemente ligadas diretamente ao aumento da rentabilidade nos objetivos trimestrais ou anuais de uma empresa”.
Vemos isto, continua, “refletido com bastante frequência nas conversas mais detalhadas entre os profissionais das empresas em eventos de economia circular. Grande parte da discussão é deixada à forma como redesenhamos produtos e embalagens para um futuro em circularidade e muito menos da conversa é dedicada à forma como simplesmente vendemos menos enquanto aumentamos os lucros. Mesmo a maior parte da conversa sobre o novo modelo de negócios em eventos está centrada em continuar a colocar cada vez mais produtos no mundo, mas apenas através de meios diferentes, como o novo modelo de aluguer ou de propriedade partilhada, para garantir que estes voltem para reciclagem”.
Porque é que a redução é importante?
O analista não crê que “haja um sector da economia onde a redução possa ser ignorada”. “Precisamos de reduzir o fabrico de novos produtos. Precisamos de reduzir a quantidade de alimentos que desperdiçamos. Precisamos de reduzir a quantidade de plástico que produzimos e precisamos de reduzir a quantidade de energia que utilizamos para as indústrias de serviços”, explica Jon Smieja.
E conclui: “Como população global, sabemos que estamos a utilizar cerca de 1,75 terra por ano e que estamos a ficar sem minerais críticos de que precisamos para alimentar a nossa economia futura. Estes dois sinais de aviso deveriam ser suficientes para mudar a conversa no sentido da redução, mas isso não está ainda a acontecer da forma como é necessário e ao mais alto nível de liderança, tanto nos governos como nas empresas”.