O ‘branco dos olhos’ é importante na comunicação não verbal e não é exclusivo dos humanos



Costuma pensar-se que um olhar pode dizer muito mais do que as palavras. Na comunicação humana, os olhos desempenham um papel importante nas interações com outros indivíduos da mesma espécie. Para essa forma de comunicação, a esclerótica ou esclera, a parte branca dos olhos, é bastante importante, uma vez que em contraste com íris, a parte colorida, é possível perceber a direção do olhar.

Uma nova investigação científica mostra que a esclerótica branca é mais comum em espécies não-humanas do que antes se pensava, sobretudo em chimpanzés e outros mamíferos.

Num artigo divulgado na revista ‘Journal of Human Evolution’, cientistas dos Estados Unidos e do Reino Unido, através da análise de mais de mil fotografias de 230 chimpanzés selvagens de Ngogo, no Parque Nacional de Kibale, no Uganda, perceberam que 15% dos animais da amostra tinham esclerótica branca e que outros 41% tinham-na em tons claros, embora não totalmente branca.

A membrana externa branca do olho era mais comum em chimpanzés com menos de um ano e meio de idade e tendia a escurecer à medida que o animal envelhecia. Nos chimpanzés com esclerótica escura, as íris eram mais claras, criando “um contraste que tornava mais fácil observar a direção do olhar do animal”.

Os chimpanzés com menos de um ano e meio de idade tendem a ter esclerótica branca, mas escure à medida que envelhecem.
Foto: Kevin Langergraber

Na maioria das espécies não-humanas, essa parte do olho é escura, o que faz com que seja difícil perceber para onde olha o animal, e fez com que durante muito tempo os cientistas pensassem que a esclerótica branca dos humanos tivesse evoluído para facilitar o desenvolvimento de um complexo sistema de comunicação própria da espécie Homo sapiens. Isso fez também com que se considerasse que a esclerótica branca noutros animais fosse encarada como uma ‘anomalia’.

Aaron Sandel, professor de Antropologia na Universidade do Texas – Austin e um dos autores do artigo, explica que a nossa esclerótica branca era tida como um sinal de “aspetos únicos da nossa cognição, como a nossa capacidade para cooperar e comunicar”, devido ao contraste entre a parte branca e a íris. “Esta ideia ficou tão enraizada que alguns cientistas ignoraram exceções óbvias a esta regra”, assinala.

Embora estudos anteriores tenham identificado a esclerótica branca noutros primatas, deixaram de lado os chimpanzés, dizem estes investigadores, que é o nosso parente genético mais próximo que ainda vive nos dias de hoje.

Isabella Clark, principal autora do artigo, diz que a esclerótica escura dos chimpanzés tem sido usada como argumento para defender que esses animais tendem a ser mais competitivos do que cooperantes com membros da mesma espécie. Por isso, os investigadores consideram que só com uma amostra ampla é possível realmente perceber as variações na coloração da esclerótica dos chimpanzés, algo que estava em falta em estudos anteriores.

Além desses primatas, os cientistas estudaram também os olhos de 70 outras espécies de animais em jardins zoológicos e perceberam que 19 delas tinham pelo menos um indivíduo com a esclerótica branca. Assim, Sandel afirma que “mais espécies do que antes se pensava têm esclerótica branca”.

No entanto, muitas questões ficam ainda sem resposta. Entre elas, o que é que as espécies com escleróticas brancas têm em comum? Além disso, resta também saber como e porquê terá o humano evoluído um olho com uma parte branca e com uma parte colorida. Terá sido alguma pressão do nosso ambiente ancestral que promoveu humanos com olhos assim?

A solução para esses mistérios do mundo natural ficarão a cargo de investigações futuras.






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