O fim do saco de plástico: uma perspectiva global



Todos os anos, a nível mundial, é utilizado um bilião de sacos de plástico, o que equivale à utilização de quase dois milhões de sacos a cada minuto. A quantidade utilizada apresenta grandes variações entre os países mundiais. Se os europeus de leste utilizam mais de 400 sacos de plástico por ano, os dinamarqueses e os finlandeses utilizam apenas quatro sacos por ano.

Os sacos de plástico são produzidos recorrendo ao gás natural e petróleo e, muitas vezes, são apenas utilizados uma única vez. Contudo, estes objectos têm um período de vida de mais de 100 anos, o que significa que quando não são reutilizados podem afectar o ambiente durante mais de um século.

Ao longo do último século, o plástico apoderou-se do planeta Terra. Se por um lado o plástico parece ser um material miraculoso, com várias aplicações que vão desde instrumentos médicos à produção de carros, por outro ele é uma espécie de maldição, que permite a produção em massa de materiais descartáveis que enchem os aterros, poluem os oceanos e sufocam a vida selvagem.

Cheios de aditivos que não têm um histórico de segurança, os plásticos estão associados a uma série de problemas de saúde, incluindo alguns tipos de cancro e a infertilidade. Embora os plásticos possam utilizados e reciclados de forma inteligente, a maioria dos produtos feitos a partir deste material não são usados conscientemente. Talvez nenhum outro objecto simbolize tão bem a cultura consumista da humanidade.

O início do fim da era do plástico

Dada a multiplicidade dos problemas associados ao uso de sacos de plástico, muitas comunidades começaram a tentar libertar-se da obsessão dos sacos de plástico, implementando restrições ao uso ou mesmo a proibição destes objectos. A lei mais antiga referente à utilização dos sacos de plástico data de 1993 e foi implementada na Dinamarca. A lei é dirigida aos produtores de sacos de plásticos que têm de pagar uma taxa baseada no peso dos sacos. Foi permitido às lojas passar este custo acrescido para os consumidores, quer através da cobrança dos sacos quer através do aumento o preço de outros produtos. O efeito inicial da lei foi a diminuição em 60% do uso dos sacos de plástico.

Uma das medidas governamentais relativas ao uso dos sacos é o imposto nacional do saco da Irlanda, adoptado em 2002. Este imposto foi o primeiro a taxar directamente os consumidores, começando nos 15 cêntimos por saco. Cinco meses depois da implementação a medida, a utilização e sacos caiu 90%. Contudo, com o passar dos anos, a utilização do material voltou a aumentar e, em 2007, a taxa foi aumentada para 22 cêntimos por saco. Em 2011, foi acrescentada uma ementa à lei com o intuito de restringir a utilização anual dos sacos até o máximo de 21 por pessoa.

Apesar de o imposto irlandês ser o mais conhecido, existem outros países europeus onde os consumidores pagam pelos sacos – quer através de leis ou iniciativa dos espaços comerciais. Estes países são a Bélgica, Bulgária, França, Alemanha, Países Baixos, Letónia e Portugal (onde já muitas lojas cobram pelos sacos). Adicionalmente, os Estados-membros da União Europeia terão de implementar medidas para reduzir a utilização dos sacos de plástico em 80% até 2019, refere o Treehugger.

A preocupação com os animais

A redução da quantidade de sacos presentes nos ecossistemas marinhos tem sido uma das principais preocupações europeias a nível ambiental. Na proposta de redução apresentada pela Comissão Europeia lê-se que “no Mar do Norte, os estômagos de 94% de todas as espécies de aves contêm plástico ou vestígios do material”.

Esta preocupação com os animais marinhos levou a Austrália a implementar medidas em 2003, nomeadamente na Tasmânia, devido à rota de migração das baleias. Actualmente, metade dos estados australianos possuem restrições ao uso dos sacos.

Além das preocupações com a vida marinha, as razões para a implementação de restrições ao uso do plástico relacionam-se com surtos de malária, que estão associados com a recolha e transporte de água em sacos no Quénia, como também com os esgotos entupidos pelos sacos no Bangladesh, Camarões e Filipinas.

No Texas, Estados Unidos, vários animais começaram a sufocar depois de ingerirem plástico, o que levou à regulamentação do uso dos sacos. Na Índia, a preocupação é com as vacas, consideradas sagradas pelos indianos. Na capital da Mauritânia, 70% das mortes de gado estão relacionadas com a ingestão de sacos de plástico e nos Emirados Árabes Unidos a preocupação é com os camelos.

A medida mais severa de todo o mundo, no que toca à utilização dos sacos, é do Ruanda. Desde 2008, que os sacos foram banidos e os passageiros internacionais que chegam ao país são obrigados a entregar às autoridades todos os sacos de plástico que tragam consigo. Não é claro, contudo, o sucesso da medida, nomeadamente nas áreas menos urbanas, pois existe um mercado negro para os sacos de plástico.

Na África do Sul, onde é possível encontrar sacos abandonados nas árvores, arbustos e outra vegetação, o saco de plástico foi já apelidado de flor nacional. Em 2003, foi implementada uma restrição ao uso de sacos de plástico muito finos que se rasgam facilmente e os sacos mais grossos são taxados. Outros 16 países africanos implementaram ou anunciaram já medidas para banir certos tipos de sacos de plástico.

Na China, onde a poluição provocada pelos sacos aumentou exponencialmente, são poucas as cidades e províncias que tentam limitar o uso. Em 1990, começou-se a limitar o uso dos sacos. Contudo, a medida não surtiu nenhum efeito. Na América Latina existem também algumas iniciativas para reduzir o lixo causado pelos sacos. No Chile, as cidades de Pucón e Punta Arenas baniram o uso.

Na Argentina, os estados de Buenos Aires e Mendoza também baniram os sacos. Em alguns estados do Brasil é apenas permitido o uso de sacos de plástico biodegradável. Em Janeiro de 2012, São Paulo baniu o uso de sacos de plástico pouco resistentes, permitindo apenas os de maior durabilidade, que passaram a ser taxados. Contudo, a medida acabou por ser abolida por um tribunal que, dizem os ambientalistas, terá sido influenciado na decisão pela indústria do plástico.





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