O projecto que evitou que a Lagoa das Furnas se transformasse num pântano (com VÍDEO)



Várias décadas de exploração intensiva dos terrenos adjacentes à Lagoa das Furnas, na ilha de São Miguel, Açores, estavam a transformar o local num pântano, devido à eutrofização. Este fenómeno traduz-se num excesso de matéria orgânica nas águas, motivada por uma concentração, também excessiva, de nutrientes.

A eutrofização da lagoa agravou-se a partir da década de 1960, principalmente devido à utilização da zona envolvente para pastagens e outros fins agrícolas, com o recurso de fertilizantes e pesticidas. A proliferação das pastagens e a perda inerente da vegetação nativa contribuiu igualmente para a degradação da paisagem local.

Contudo, em 2007 surgiu um projecto para evitar que a Lagoa das Furnas se transformasse completamente num pântano. Para recuperar a qualidade da água desta lagoa foi então aprovado o Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas, que tinha como objectivo alterar o uso do solo numa larga extensão da bacia hidrográfica do reservatório.

“Isto era uma área degradas e com infestantes. Agora temos aqui mais de 5.000 plantas, quer endémicas quer autóctones. Recuperámos uma zona que estava em ruína e construímos um centro que serve de base para a equipa de gestão do projecto”, indica Élia Palha, directora do Parque Natural de São Miguel, ao Economia Verde.

Do plano de requalificação fazem parte várias acções. Desde que o Governo dos Açores, através da Direcção Regional do Ambiente adquiriu cerca de 300 hectares de área agrícola e florestal na Furnas, por cerca de €7,5 milhões, foram construídas cinco bacias de retenção de água nas terras altas, foram retiradas mais de 500 cabeças de gado destes terrenos e os mais de cinco quilómetros de terra junto às linhas de água que desaguam na lagoa foram reflorestados com espécies autóctones e endémicas.

Os frutos dos últimos sete anos de trabalho de restauro e conservação da paisagem já são visíveis, mas os objectivos finais ainda não foram atingidos. “ Existem melhorias ao nível da qualidade da água, mas ainda não estamos satisfeitos. Isto é um processo lento e ainda não atingimos os valores que pretendíamos. Temos agora de dar tempo à Natureza”, explica Élia Palha.

Além do centro de interpretação da lagoa, onde os visitantes podem conhecer melhor as características desta paisagem e as espécies que lá habitam, existem ainda o Laboratório de Paisagem das Furnas, onde uma futura paisagem florestal multifuncional está a ser criadas para servir como campo experimental pioneiro nas ilhas açorianas para a implementação de novas técnicas de restauro ecológico, actividades económicas e práticas de gestão.

No último ano, o projecto de recuperação ecológica da lagoa foi contemplado com o Prémio Nacional de Paisagem, uma distinção criada em 2012 pelo Ministério da Agricultura e do Ambiente, ao abrigo do quadro da Convenção Europeia da Paisagem, ratificada por Portugal em 2005.

O Economia Verde foi conhecer melhor este projecto que está a contribuir para a qualidade do ecossistema das Furnas. Veja o episódio 322 aqui.

Foto: elsa11 / Creative  Commons





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