O projecto que quer reduzir capturas acidentais de aves marinhas na área entre Aveiro e Nazaré
Investigadores das universidades do Minho e de Aveiro vão colocar 20 dispositivos – 10 de som e 10 ópticos – em 40 barcos que saem para o mar na Zona de Protecção (ZPE) Especial Aveiro-Nazaré, de forma a proteger as aves marinhas das redes de pesca.
Durante os próximos dois anos, os investigadores irão “assegurar um novo tipo de ensaios com um novo tipo de metodologias de redução de capturas acidentais”, explicou à agência Lusa o coordenador do projecto, José Vingada.
A iniciativa chama-se Capredux – Redução das Capturas Acidentais de Aves Marinhas na Zona de Protecção Especial Aveiro- Nazaré, reúne Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem e as universidades do Minho e de Aveiro e foi a grande vencedora do InAqua – Fundo de Conservação do Oceanário de Lisboa e National Geographic Channel.
Iniciado em 2010, o projecto parte da constatação do elevado número de aves marinhas emaranhadas nas redes de pesca, quando estas são lançadas ou levantadas do mar, provocando a sua morte, mas também prejuízos para os pescadores.
De acordo com os autores do projecto, o aumento da pressão sobre o meio marinho, nomeadamente da parte das pescas, “tem resultado num incremento da mortalidade destas espécies”. “É preciso encontrar um ponto de equilíbrio, é preciso que haja exploração da actividade pesqueira mas também a conservação de algumas espécies que são fortemente ameaçadas”, continua José Vingada.
Uma das espécies que mais preocupa a comunidade científica é a pardela-balear. Na zona entre Nazaré e Aveiro, estima-se que haja “uma captura média de três a quatro aves por embarcação”, o que, no conjunto de uma população avaliada em cerca de 20.000 indivíduos, “pode colocar em risco a sobrevivência da espécie”.
“Vamos apostar em duas metodologias integradas, uma delas implica o afastamento acústico, através de um sistema que emite um conjunto de sons naturalmente feitos pelas aves marinhas, chamados sons de stress”, ou de alerta, que levam a uma resposta defensiva da parte dos pássaros, que se afastam “da zona da largada ou recolha de redes”, resumiu José Vingada, em declarações à Lusa.
A segunda metodologia também é de afastamento, mas utiliza sistemas ópticos, partindo do facto de as aves serem sensíveis a feixes de luz mais ou menos intensos e à cor verde forte.
A ave, ao ver aquele feixe de luz, “acha que está ali alguma coisa estranha, perigosa e afasta-se” enquanto o pescador está a operar a rede.
Os ensaios nos 40 barcos são acompanhados por observadores do grupo de investigação, que vão recolher dados acerca da forma como é aplicada a metodologia na área Nazaré-Aveiro, classificada ao abrigo da Rede Natura 2000 para protecção de aves, e onde existe abundância de sardinha, carapau e cavala.
“Todo o trabalho que fazemos depende da cooperação dos pescadores e só com um trabalho em conjunto, na tentativa de encontrar soluções com o sector, é possível, a longo prazo, assegurar estas medidas”, declarou o cientista.