O safari fantasma da Tanzânia



Há menos de 30 anos o vale do rio Kilombero, na Tanzânia, era um pequeno paraíso na Terra. Ali habitavam a maior comunidade de antílopes Puku, manadas com mais de 100 elefantes e uma população de perto de 600 leões. Hoje a estrada que atravessa o vale está completamente deserta.

Desde épocas longínquas que este vale é cobiçado. Os europeus quando chegaram à região por volta dos anos de 1800 viram naquelas terras vermelhas e extremamente férteis um bom potencial para plantações de arroz e cana do açúcar. Mas enquanto os colonos desenhavam planos magnânimos para o desvio das águas do Kilombero para irrigar as plantações, o governo da Tanzânia manteve-se durante séculos fechado ao investimento estrangeiro.

Mas em 1985 o panorama mudou. Com a mudança de líderes no país, os novos governantes viram no investimento estrangeiro um caminho de prosperidade para o país e com isso o vale do Kilombero estava prestes a deixar de ser o que era.

Tudo começou em meados dos anos 90. Primeiro foram os criadores de gado que para ali levaram as suas manadas. Depois, graças a fundos britânicos, foi ali implantada a maior herdade de exploração de teca. E finalmente em 1998 o resto dos terrenos foi vendido a um consórcio formado por um dos maiores produtores de açúcar de África e a empresa Associated British Foods.

O projecto corria de vento em popa e o governo atingia os seus objectivos: atrair investimento para o seu país. Apenas um pequeno detalhe falhou: ninguém se lembrou da preservação da vida selvagem que fazia daquele vale a sua casa.

Ryan Shallom, nascido na região e com memória fresca da riqueza selvagem do vale, declarou ao The Guardian: “Durante anos fizemos tudo para chamar a atenção deste perigo. Queríamos proteger a diversidade e integrar o vale numa reserva. Ninguém quis saber. Nem imprensa, nem governo, nem comunidade internacional.” O resultado é um vale radicalmente transformado. A floresta são agora campos de cana de açúcar e teca a perder de vista. E a estrada que atravessa o vale, que antes era um popular percurso de observação de vida selvagem, é hoje conhecida como o safari fantasma.

Foto: Creative Commons





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