O sheikh que passou de engenheiro petrolífero a protector do ambiente



Não é todos os dias que estamos frente-a-frente com um sheikh – ou xeique, em português correcto – e, muito menos, na presença de um skeikh verde, um embaixador planetário pelo ambiente que é, paralelamente, um engenheiro petrolífero de formação e conselheiro ambiental do governo de Ajman, o mais pequeno dos sete Emirados Árabes Unidos.

No entanto, quem ontem passou a tarde no Pequeno Auditório da Culturgest, em Lisboa, não deu o seu tempo por mal empregue. O sheikh Abdul Aziz Al Nuaimi não deixou a sua fama por mãos alheias, pôs a máscara de líder ambiental e atirou-se de frente para a audiência. “O mundo precisa de mais como eu, pessoas com integridade. Vamos deixar a religião e a política de lado e vamos ter de estar unidos”, explicou.

Com uma abordagem invulgar à temática do ambiente – muito diferente, por exemplo, dos colegas de sessão, o investigador Alexandre Nieuwendam e o director do MIT Portugal, Paulo Ferrão – o sheikh Abdul Aziz Al Nuaimi ensaiou uma enorme metáfora sobre o que nós, enquanto cidadãos, jovens, pais ou líderes, temos de mudar para que o desenvolvimento sustentável deixe de ser um mito – como o próprio afirmou ao site Observador – e as acções sustentáveis sejam verdadeiramente palpáveis e efectivas.

Ou seja: deixemos de lado o bla bla bla e passemos às acções. Antes, aliás, já o investigador Alexandre Nieuwendam já tinha sugerido o mesmo “O tema das alterações climáticas é complexo e não devemos acreditar em tudo o que lemos na internet sobre o assunto”, esclareceu.

Para o sheikh não há impossíveis e todos podemos mudar a forma como nos relacionamos com o ambiente. “Eu quero mudar milhões de pessoas e já o consegui [com algumas]. Nos países asiáticos, nos Estados Unidos, na Europa”, revelou.

Durante a apresentação, que o sheikh polvilhou com fotos da família e das suas viagens pelo globo, existiu sempre uma sensação muito intensa de espiritualismo. O desenvolvimento sustentável pode ser um mito, mas a forma como o sheikh entrou na mente do público através das experiências pessoais foi bem clara e verídica.

Pelo meio, o sheikh Al Nuaimi ainda conseguiu falar dos povos e do que os une e separa. “Há boas pessoas e aqui [na Europa e Portugal] e lá e más pessoas em todo o lado. Temos 95% de similitudes e 5% de diferenças. O importante é sermos felizes aqui e agora”, continuou.

Voltar às raízes

Quem quiser mudar terá de se libertar de todas as amarras e despir-se de preconceitos. “Voltar a nascer e regressar às raízes”, como explicou o sheikh. “Há quem consiga mudar com palavras, imagens, com os erros ou com a tecnologia. E até podemos mudar quem não queira ser mudado”, admitiu.

Durante este discurso de tolerância e respeito pelos homens, o sheikh verde esclareceu que somos todos heróis. Ou melhor, que podemos ser todos heróis, tenhamos nascido reis ou simples operários.

Depois, ele chamou a atenção para a importância da mensagem passada pelos pais às suas crianças, dando como exemplo a sua própria experiência. Com seis anos, Abdul Aziz Al Nuaimi conversou com o Zayed bin Sultan Al Nahyan, emir de Abu Dhabi, principal responsável pela criação dos Emirados Árabes Unidos e primeiro presidente do país.

Nessa conversa, o interlocutor de Adbul Aziz Al Nuaimi colocou-se em pé de igualdade com ele, espicaçando a sua inteligência e formando-o como líder. Hoje, o sheikh verde faz o mesmo com milhares de jovens de todo o mundo. “Futuros presidentes, embaixadores e ministros”, explicou. “Quando eles estiverem nestes cargos vão lembrar-se daquilo que eu lhes disse. As crianças são muito inteligentes e vão lembrar-se de tudo o que os pais lhe disseram quando eram pequenos”, continuou. Se os pais tiverem uma consciência ambiental, então as crianças seguir-lhes-ão os passos, e assim sucessivamente.

Finalmente, o sheikh verde falou a sua passagem de engenheiro petrolífero poluidor para protector da natureza. Recordou a paixão do pai por falcões e explicou como as caçadas, tão em voga há 50 anos, são agora políticas de protecção animal. E de como é difícil fazer este percurso.

“Em 1996 falava de edifícios verdes, ecologia industrial e ninguém queria ouvir. Dez anos depois todos começaram a falar disso. Precisamos de tempo”, explicou.

Nos Emirados Árabes Unidos, continuou, 45% dos camelos morreram devido à ingestão de sacos de plástico. O sheikh verde concorda que o Planeta está a consumir muito – “demasiado” – e que uma pessoa que viva até aos 80 anos, nos Emirados Árabes Unidos, vai ser responsável por 50 toneladas de resíduos.

Oriundo de um país onde a produção de petróleo é a base da economia, o sheikh verde é hoje, aos 48 anos, uma das vozes mais excêntricas mas também com um pensamento mais disruptivo na área do ambiente e economia verde.

No início da conferência, o sheikh Abdul Aziz Al Nuaimi avisou que não há muitos como ele: “Não sei de voltarei a Portugal ou quando o farei. Por isso devem aproveitar-me agora”. É uma pena, assim, que mais pessoas não o tenham feito: o sheikh verde merecia o Grande Auditório da Culturgest à pinha.

A conferência Pontes para um Futuro mais Sustentável faz parte do ciclo Conferências Bridges, organizado pela Caixa Geral de Depósitos. Fique a par da próxima conferência neste site.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...