Ocean Alive realiza operação para salvar pradaria marinha de Soltróia



Esta quarta-feira, dia 9 de fevereiro, a Ocean Alive desenvolveu uma ação para salvar as pradarias marinhas no Estuário do Sado, na praia de Soltróia. A operação começou por volta das 8 horas da manhã, e consistia na remoção de um cabo de 200 metros de um ancoradouro para embarcações, que estava a degradar uma pradaria de Cymodocea nodosa.

Com mais de 50 participantes, esta ação iniciou com o trabalho de vários mergulhadores, que retiraram cerca de 30 cavalos-marinhos que estavam junto ao cabo, mais especificamente das espécies cavalo-marinho-de-focinho-comprido (Hippocampus guttulatus) e cavalo-marinho-comum (Hippocampus), e que recolheram informações para avaliar os danos provocados pelo mesmo neste berçário de vida marinha. O cabo foi então depois cortado por profissionais para ficar a flutuar, sendo depois encaminhado para a praia com a ajuda das embarcações e de um cordão humano.

Como conta Miguel Correia, investigador do ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada e biólogo marinho que apanhou este pequenos peixes, “São as duas espécies que ocorrem nas nossas zonas costeiras; são espécies sobretudo ligadas a zonas de baixa profundidade, como é o caso aqui do Estuário do Sado.” Relativamente ao cabo, afirma que “está cheio de vida”, tendo encontrado ao seu redor várias espécies de crustáceos, algas marinhas e algas incrustantes. “A questão do cabo é que estava a entrar em conflito com uma zona de pradaria que por si só também tem um grande valor, não só para os cavalos marinhos, como é este caso, mas para muitas outras espécies”, explica.

Quando o extenso cabo chegou às margens da Península de Troia, foi puxado e mantido à beira mar para que toda a vida marinha fosse retirada em segurança. Em poucos minutos encontraram-se diversos animais, nomeadamente, uma lebre do mar, um nudibrânquio e um platelminto, mas também vieiras, caranguejos e espirógrafos.

Relativamente aos impactos que este cabo poderá ter nas pradarias, Nuno Padrão, mergulhador científico e biólogo marinho do CCMAR Algarve, refere que ainda não é conhecida em concreto a extensão dos danos, sendo necessária ainda uma observação aos dados recolhidos. No entanto, a extensão pode variar entre os 100 e os 200 metros quadrados de pradaria impactada, uma área que considera bastante grande. “Há zonas da pradaria que estavam claramente impactadas, via-se claramente nas zonas de mais densidade das ervas uma mancha de um lado e uma do outro, como um canal de areia descoberta onde o cabo estava lá no meio, portanto a agitação do cabo para a frente e para trás, possivelmente com a ondulação e quando os barcos estão amarrados, abriu ali um roço no meio da pradaria.”

Os impactos possíveis, sendo mais preciso, passam pela degradação do habitat natural. “O cabo em si cria substrato para espécies que não são naturais daqui, por exemplo nós observamos uma série de cistuseiras, que é uma alga que normalmente tem um substrato que aqui não existe. Na pradaria em si, poderá ter realmente impactos pela dinâmica de crescimento das ervas marinhas que constitui estas pradarias. O cabo ao estar ali e estar a partir, digamos assim, a pradaria aos pedaços, está a destruir este crescimento natural rizomático e pode causar que em algumas zonas se comece a perder a capacidade de regenerar. Aí sim, se as pradarias forem impactadas e começarem a desaparecer, como já aconteceu no Portinho da Arrábida, poderemos começar a falar de um impacto na biodiversidade”, exemplifica Nuno Padrão. “As ervas marinhas são aquilo que nos chamamos ‘engenheiros de ecossistema’, ou seja, elas criam habitat em zonas que seriam naturalmente estéreis. Desaparece a pradaria, toda esta biodiversidade desaparece com a pradaria, daí a grande importância de preservar estas espécies estruturantes”, sublinha.

Os profissionais vão agora fazer um mapeamento da pradaria marinha presente nesta zona do Estuário do Sado, e avaliar os potenciais danos causados pelo cabo. O restauro ativo da pradaria começa já no mês de março, com o apoio da Associação Viridia, um projeto da Ocean Alive em parceria com o CCMAR.

A operação realizou-se conjuntamente com a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, a Reserva Natural do Estuário do Sado e a Capitania do Porto de Setúbal, e contou com a colaboração dos centros de investigação do CCMAR – Centro de Ciências do Mar na Universidade do Algarve, do ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada e do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, entre outras entidades, empresas e utilizadores locais.

Veja aqui algumas fotografias da operação:





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