ONU: Avanço na fusão nuclear não diminui luta contra aquecimento global



A ONU realçou ontem a importância do anúncio de cientistas dos EUA terem conseguido fazer uma fusão nuclear com ganho líquido de energia, mas advertiu que isso não deve reduzir o combate ao aquecimento global.

“É um avanço extremadamente importante, mas não devemos parar os nossos esforços para diminuir as emissões (de gases com efeito de estufa) e avançar com medidas de mitigação e adaptação”, afirmou o porta-voz da organização, Stéphane Dujarric.

O porta-voz apontou que o anúncio feito hoje pelos EUA pode ser uma grande ajuda na luta contra as alterações climáticas, se bem que ainda se desconheça quando a novidade poderá ser concretizada de forma generalizada na produção de energia.

Dujarric recordou que o mundo enfrenta uma crise e que é necessário continuar com os esforços para procurar limitar o aquecimento do planeta.

O governo dos EUA confirmou hoje que os cientistas conseguiram uma fusão nuclear com ganhos líquidos de energia, o que possibilita uma produção mais barata e limpa.

“Isto é apenas o início”, disse a secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, durante uma conferência de imprensa conjunta com a diretora de Política de Ciência e Tecnologia da Casa Branca, Arati Prabhakar, e outros dirigentes governamentais e cientistas.

Em 05 de dezembro, cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, no Estado da Califórnia, conseguiram pala primeira vez uma reação de fusão nuclear com ganhos líquidos de energia, isto é, com uma produção de energia superior à consumida.

Os cientistas, em todo o caso, deixaram claro que ainda existem “obstáculos significativos, não apenas científicos como tecnológicos” à sua utilização comercial e estimaram em “algumas décadas” o tempo necessário para a construção de uma central elétrica que funcione com esta tecnologia.

Segundo o jornal britânico Financial Times, a reação produziu 2,5 megajoules de energia face aos 2,1 megajoules usados para alimentar os ‘lasers’ que serviram para bombardear isótopos de hidrogénio mantidos num estado de plasma sobreaquecido com o intuito de fundi-los em hélio, libertando um neutrão e energia limpa (livre de carbono).

A experiência constitui um avanço no uso da tecnologia de fusão nuclear para produzir energia limpa, barata e quase ilimitada.

Em fevereiro, investigadores europeus, incluindo portugueses, anunciaram que tinham atingido de forma sustentada um recorde de energia de fusão em teste que visava preparar a operacionalização do maior reator de fusão nuclear experimental do mundo, em construção em França.

No teste, feito em finais do ano passado e que durou cinco segundos, foi obtido um valor recorde de 59 megajoules de energia de fusão sustentada no dispositivo de fusão Joint European Torus (JET), o maior do género no mundo, a funcionar no Reino Unido.

O processo de fusão, o oposto da fissão de átomos pesados (de urânio) em que assenta a energia nuclear atual, consiste em juntar átomos de elementos leves, como o hidrogénio, a altas temperaturas, formando hélio e libertando uma enorme quantidade de energia na forma de calor. As reações de fusão são geradas por estrelas como o Sol.

A tecnologia de fissão nuclear, que gera resíduos altamente radioativos, apenas produz 10% da energia mundial, muito menos do que o carvão e o gás (combustíveis fósseis com forte impacto no ambiente).

Os Estados Unidos são um dos parceiros, a par da União Europeia, da China ou do Japão, do reator de fusão nuclear experimental em construção em França, que será a “antecâmara” da futura central energética europeia de demonstração de fusão, em estudo e com a qual se pretende testar a produção de eletricidade de uma forma limpa e segura.

Em março, em declarações à Lusa, o investigador Eduardo Alves, que participa no projeto do reator experimental, admitiu que a energia produzida por fusão nuclear poderá estar ao alcance em 40 a 50 anos.





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