Orca cuida de cria de baleia-piloto. Cientistas dizem que este comportamento nunca tinha sido observado antes
Foi a 12 de agosto de 2021, que uma equipa de investigadores da Islândia e do Canadá, enquanto percorria a costa ocidental islandesa para estudar o comportamento das orcas (Orcinus orca) dessa região, se depararou com o que Elizabeth Zwamborn, uma das cientistas do grupo, descreve como um comportamento “extremamente interessante”.
Um grupo de três orcas, composto por duas fêmeas e um macho, nadava ao largo da Península de Snæfellsnes, acompanhado por uma cria de baleia-piloto (Globicephala melas). Os investigadores, que revelaram a descoberta num artigo publicado em fevereiro na revista ‘Canadian Journal of Zoology’, dizem que a observação deste comportamento inédito durou 21 minutos e que não havia qualquer outro cetáceo na área.
Não é incomum serem registadas interações entre orcas e baleias-piloto, mas esses encontros resumem-se a confrontos entre grupos das duas espécies. O que torna esta observação incomum é o facto de, segundo os investigadores, parecer que a pequena cria foi adotada pelas orcas. Isto, porque a cria foi vista a nadar junto de uma orca fêmea, conhecida como Sædís, um comportamento tipicamente observado entre progenitoras e crias da mesma espécie.
Por isso, os autores dizem que este é o primeiro caso alguma vez registado de uma orca a cuidar de uma cria de outra espécie, configurando um caso de aloparentalidade (em que o cuidado parental é prestado a crias por indivíduos que não são os seus progenitores) inter-espécies.
“Nunca tinham sido vistas orcas a cuidar de crias de outra espécie”, aponta Elizabeth Zwamborn, explicando que estes dois cetáceos “têm relações progenitora-cria muito semelhantes” e dimensões corporais muito próximas, pelo que “uma baleia-piloto dá um bom substituto para uma cria de orca”.
No entanto, este comportamento levantou mais perguntas do que gerou respostas, uma vez que os investigadores não sabem ao certo se a cria foi ‘raptada’ do seu grupo de baleias-piloto durante um dos confrontos entre as duas espécies, se ficou órfã ou se foi abandonada pela progenitora.
Mas creem que é mais provável que tenha sido adotada do que retirada à força do seu grupo original, e dizem que a fêmea Sædís nunca foi observada com uma cria sua, durante o período em que os cientistas estiveram em investigação no terreno, entre 2011 e 2022.
“É possível que não possa gerar crias ou que não seja capaz de cuidar delas”, explica Zwamborn, acrescentando que isso torna essa fêmea de orca mais apta a cuidar de uma cria de outra espécie.
Contudo, um ano depois desta observação invulgar, quando os cientistas voltaram à Península de Snæfellsnes, a orca Sædís já não era acompanhada pela jovem baleia-piloto, não sabendo o que poderá ter acontecido à cria, que, quando foi vista pela primeira vez, apresentava sinais de subnutrição.
Com todos esses mistérios, os autores escrevem que são precisos mais trabalhos de investigação científica para desvendar a peculiar relação entre as orcas e as baleias-piloto e para perceber como é que uma cria de uma espécie pode ter vindo a ser adotada por um grupo de outra.