Os 25 anos do Parque do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina



No próximo domingo, 7 de Julho, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, um dos mais importantes centros de biodiversidade de Portugal, faz 25 anos.

A criação do parque teve como pano de fundo os movimentos que, então, se começaram a verificar no sentido de uma maior ocupação e utilização da paisagem natural da região. O decreto-lei protegeu os valores naturais, paisagísticos e culturais da região, unanimemente reconhecidos pelas autoridades locais e nacionais.

De entre os objectivos de criação da APPSACV destacam-se a promoção da protecção e do aproveitamento sustentado dos recursos naturais, a protecção de outros valores naturais, paisagísticos e culturais da zona litoral do Sudoeste de Portugal, sustendo e corrigindo os processos que poderiam conduzir à sua degradação e criando condições para a respectiva manutenção e valorização, bem como a promoção do desenvolvimento económico, social e cultural da região, de uma forma equilibrada e ordenada.

A verificação, em 1995, de que a zona litoral do Sudoeste de Portugal continuava a ser uma das mais preservadas nos seus aspectos naturais, considerando inclusive o todo europeu, determinou que a sua defesa fosse entendida como uma prioridade nacional, ultrapassando o estrito âmbito municipal.

Assim, a 23 de Janeiro desse ano foi aprovado o novo quadro de classificação das áreas protegidas nacionais, tendo a APPSACV sido reclassificada em Parque Natural pelo Decreto Regulamentar n.º 26/95, de 21 de Setembro, através do qual foi criado o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV).

Ex-libris da natureza

Situado entre a ribeira da Junqueira, em São Torpes, e a praia do Burgau, perto de Lagos, Algarve, o parque tem 110 quilómetros de extensão e uma área total de 74 414,89 hectares, sendo 56 952,79 destes em área terrestre.

O parque percorre quatro concelhos – Sines, Odemira, Aljezur e Vila do Bispo – e é conhecido pelas suas praias paradisíacas. Para além da faixa costeira e da zona submarina a partir da costa, o parque inclui o vale do rio Mira desde a foz até à vila de Odemira.

Na verdade, as praias, muito procuradas pelos surfistas, são das melhores do país. A variedade é enorme, encontrando-se extensos areais ou pequenas praias aninhadas entre arribas e rochas. De entre tantas, podemos referir Porto Covo, Malhão, Vila Nova de Milfontes,  Almograve, Monte Clérigo, Arrifana e a Praia do Amado. Ainda que os acessos nem sempre são fáceis, poderá descobrir muitas outras que se mantêm em estado quase selvagem.

Com um clima mediterrânico e forte influência marítima, o parque tem uma grande biodiversidade – habitats naturais e semi-naturais, como arribas e falésias abruptas e recortadas, praias, ilhotas e recifes, o estuário do Mira, o cabo Sardão e de São Vicente.

As altitudes máximas são de 324 metros em São Domingos, Odemira e uma profundidade máxima de 32 metros, ao largo do Pontal da Carrapateira, em Aljezur.

Ao longo do parque ocorre uma mistura de vegetação mediterrânicanorte-atlântica e africana, com predominância para a primeira. Há cerca de 750 espécies, das quais mais de 100 são endémicas, raras ou localizadas; 12 não existem em mais nenhum local do mundo. Na área do parque encontram-se espécies consideradas vulneráveis em Portugal, assim como também diversas espécies protegidas na Europa.

As espécies

Aqui, avistam-se muitas espécies de aves, como as raras águias pesqueiras, mas o destaque maior vai para as cegonhas-brancas, por ser este o único local do mundo em que elas nidificam nos rochedos marítimos. Outra raridade são as lontras, pois este também é o único lugar em Portugal e um dos últimos na Europa, onde é possível encontrá-las em habitat marinho. Da flora, que inclui o maior número de espécies prioritárias no país, fazem parte espécies que só aqui existem, e que têm nomes como a Biscutella vicentina ou o Plantago Almogravensis.

As espécies arbóreas na área do parque dividem-se em componentes classificadas como naturais e artificiais. As primeiras são dominadas por quercíneas, como o sobreiro (Quercus suber) e o carvalho cerquinho (Quercus faginea), em especial nos barrancos. O medronheiro (Arbutus unedo L.) também é característico desta zona.

O parque é uma área de passagem para aves planadoras e para os passeriformes migradores transarianos, nas suas deslocações entre as zonas de invernada em África e de nidificação na Europa.

Com uma população residente de 24 mil pessoas, o parque tem cerca de 2,8 milhões de visitantes por ano.

A área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina engloba várias vilas e aldeias. Ao longo dos séculos a população dedicou-se à pesca e à agricultura e pecuária, mas o turismo é uma actividade cada vez mais importante, nomeadamente em locais como Porto Covo e Vila Nova de Milfontes e em toda a costa algarvia do parque. O sector industrial é praticamente inexistente.

As ameaças

Segundo a Quercus, o parque tem, por estes dias, algumas ameaças, apesar do plano de ordenamento ter sido aprovado em 2011. “A expansão imobiliária, a agricultura intensiva, as plantações com espécies de rápido crescimento e um turismo cada vez mais desregado revelam-se pressões para as quais não parece haver remédio, e que podem levar à total degradação dos espaços naturais e fragmentação acentuada da paisagem e habitats”, explica a ONG portuguesa em comunicado.

A ONG acusa os “poderes políticas” de serem permissos com “agentes financeiros que apenas se aproveitam da alteração dos usos do solo para obtenção de mais-valias ilegítimas”, sem reflexos na economia local.

Os próximos anos serão fundamentais para que o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina continue a ser o pulmão da biodiversidade do Sul de Portugal. E todos seremos poucos para garantir esta continuidade.





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