Os alimentos locais e da época são mesmo melhores e mais saborosos?
Comprar produtos produzidos localmente e próprios da estação aparenta ser sempre uma melhor opção. No passado era uma escolha natural – devido à escassa oferta -, agora é uma opção que ganha cada vez mais adeptos. E, como tal, esta escolha está já a atingir os vendedores.
“É muito giro falar sobre isso, mas todas as pessoas que encontro e têm uma loja dizem que vão passar a vendar só produtos sazonais. É mais uma jogada de marketing do que crenças pessoais”, afirma ao Guardian Andreas Georghiou, vendedor de uma grande superfície comercial de produtos frescos.
No último ano, o crítico de comida do Observer lançou-se à descoberta de como será uma cadeia alimentar sustentável nos próximos anos e concluiu que os produtos locais e sazonais não são uma solução, mas sim uma escolha de estilo de vida da classe média. E serão as suposições sobre o sabor superior destes alimentos também infundados ou comprovados?
Produtos frescos não são necessariamente melhores
Alguns frutos e vegetais são melhores com a idade. “Os pimentos e beringelas da Espanha e Itália tendem a saber melhor quando estão mais maduros”, indica Andreas Georghiou. O sabor não será prejudicado, acrescenta, se os produtos “tiverem três, cinco ou 14 dias”. Também o sabor das maçãs tende a melhorar com a maturação.
Quando as importações são essenciais
É nas importações que reside uma mas hipocrisias mais óbvias da moda dos alimentos frescos e produzidos localmente. Muitos dos adeptos deste tipo de alimentos não conseguiria sobreviver sem limões, figos ou gengibre. Porém, estes produtos são mais característicos e cultivados no sul da Europa, Ásia e África e não no norte. Porém, são essenciais aos habitantes do norte do planeta, que precisam de os importar.
Os produtos sazonais são melhores
Andreas Georghiou vende entre cinco a dez caixas de espargos ingleses por dia, durante a época natural destes vegetais. Porém, fora da época vende apenas uma caixa por dia de espargos importados do Peru, uma vez que quando os espargos do Peru chegam à Europa a maioria do açúcar já se transformou em amido e o sabor é muito pobre.
A proliferação de mercados locais
Esta obsessão com os produtos locais e frescos fez disparar o número de feiras de agricultura e de mercados biológicos. Numa altura em que o cepticismo em relação às grandes superfícies comerciais aumenta, comprar directamente dos produtores pode tranquilizar os consumidores quanto à origem do produto – para aqueles que conseguem suportar os preços.
Um estudo publicado na revista científica Appetite, em 2012, questionou vários compradores destes mercados locais sobre o sabor dos produtos que ali compravam. Nenhum dos inquiridos conseguiu comprovar assertivamente o melhor sabor ou descrever esse sabor. Um dos inquiridos indicou que acreditava que aqueles alimentos sabiam melhor porque os media assim o diziam. Outros disseram que os produtos eram mais apetecíveis porque não eram produzidos em massa, o que os tornava mais fiáveis e, como tal, de melhor qualidade. O sabor nunca foi realmente mencionado.
Foto: *sax / Creative Commons