Os multibancos têm os dias contados? Nem por isso.
O primeiro multibanco do mundo foi inaugurado a 27 de Junho de 1967, em Enfield, no Reino Unido, depois de algumas experiências norte-americanos durante os anos 60. Algumas décadas depois, eles tornaram-se habituais nas ruas de vilas e cidades de todo o mundo, sobretudo na Europa e América do Norte, alterando o cenário urbano e revolucionando a forma como as populações lidam com o dinheiro.
Os multibancos mostraram que as operações financeiras não precisavam de estar ligadas a uma agência bancária específica ou, inclusive, a uma pessoa, horários ou dias da semana.
No entanto, nos últimos anos, os multibancos perderam algumas das funções exclusivas que mantiveram durante anos. Hoje, podemos fazer pagamentos online ou até com o telemóvel, no conforto da casa, entre outras operações financeiras. Por isso, muitos dizem que os multibancos têm os dias contados.
Na verdade, existem algumas provas de que a utilização do multibanco está decrescer na América do Norte ou Europa, segundo o Smithsonion – mas não na China, África ou Médio Oriente, curiosamente. O Rabobank, cooperativa bancária holandesa, espera uma redução da interacção dos multibancos entre 30 a 40% – ou sejam 60 milhões de visitas – em 2015. E isto só na Holanda.
Em Portugal, segundo o Pordata, o número de caixas multibanco está a decrescer desde 2010 – das 14.318 para as 13.911 (2011), para as 13.400 (2012) e 12.963 (2013).
Nos Estados Unidos, segundo a American Banking Association, apenas 11% dos clientes bancários utiliza o multibanco para gerir as suas contas – em 2009 eram 17%. A indústria espera que menos pessoas utilizem os multibancos nos próximos anos – de uma a duas vezes por semana a uma vez por quinzena – e as concessionárias independentes estão há 10 anos a reduzir os lucros, apesar de existirem 420.00 caixas multibanco no país que fazem 3,2 mil milhões de transacções anuais.
As notícias da morte do multibanco serão exageradas?
Ainda assim, as notícias da morte do multibanco podem ser infundadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, os bancos estão a duplicar o investimento nestas máquinas. E se até existem duas máquinas multibanco na Antárctida, detidas pela Wells Fargo Bank, por que razão elas desaparecerão totalmente dos outros locais, depois de 50 anos bem-sucedidos?
“Para que os multibancos sobrevivam e sejam interessantes é preciso que elas tenham uma boa razão para existir e criem algo de valor para os consumidores. Que estejam mais perto deles”, explicou ao Smithsonion David Stearns, professor de informática monetária e sistemas de pagamento na Escola da Informação da Universidade de Washington, Estados Unidos.
“Hoje pensamos no multibanco como um dispensador de dinheiro. Mas ele é um terminal, liga-nos a uma rede que pode interagir connosco”, explica o professor. E é daqui que poderá vir a salvação dos multibancos.
A Diebold, maior fabricante de multibancos do mundo, está a colocar os smartphones a interagir com o interface do multibanco – sem cartão. Isto permite ao consumidor, de acordo com o responsável pela inovação da empresa, Frank Natoli, fazer o casamento do móvel e o físico, utilizar menos energia e espaço.
De acordo com Natoli, os multibancos podem fazer algo mais do que operações bancárias: existem alguns que já vendem selos, nos Estados Unidos, mas a grande revolução será colocar pessoas a interagir com os consumidores. Alguns multibancos da Bank of America já têm assistentes que falam com o consumidor em tempo real através de uma câmara de vídeo, o que torna a máquina interactiva. “Os consumidores, quando sabem o que fazer, preferem servir-se sozinhos. Mas quando precisam de ajuda, querem eficiência”, explicou.
Assim, os multibancos poderão reintroduzir as pessoas – criando emprego – e, paralelamente, libertá-las de outras funções mais simples. “Já passámos pela morte da cassete, do CD, mas todos temos ferramentas para ouvir música. O que veremos, em breve, é o multibanco a evoluir para servir os consumidores na forma como estes precisam de ser servidos”, defendeu Natoli.
Foto: Tax Credits / Creative Commons