Os novos subúrbios estão no centro das cidades. Saiba porquê.
O mais recente álbum dos Arcade Fire, lançado no Verão, recorda a vida de adolescente do seu vocalista, Win Butler, nos subúrbios de Houston, Estados Unidos, na década de 80.
Os primeiros subúrbios perfeitos foram construídos em Long Island, arredores de Nova Iorque, entre 1947 e 1951. Long Island rapidamente se tornou na maior área suburbana do mundo devido, sobretudo, ao promotor imobiliário William Levvit.
Os comboios, primeiro, e os automóveis e auto-estradas, mais tarde, levaram milhões de pessoas, em todo o mundo, para os subúrbios, num gigantesco êxodo urbano.
Esses anos 80 que os Arcade Fire cantam, por outro lado, foram a década em que o conceito de subúrbio alheado da cidade – constituídos por becos sem saída e ligados a auto-estradas feitas para os automóveis – entrou em colapso e desumanizou-se.
O novo conceito de subúrbio norte-americano, de acordo com a jornalista Sarah Murray, do Financial Times, está hoje no centro de pequenas cidades. Passamos a explicar: os novos subúrbios deixaram de ser uma série de casas de linhas iguais, servidas de auto-estrada e sem serviços.
Agora têm cafés, restaurantes, bancos e outros serviços. Espaços verdes, zonas pedonais, teatros e cinemas. Centros médicos e ginásios. Ah, e casas de todos os tipos e feitios, de onde – e para onde – se pode ir a pé. No fundo, são subúrbios onde se pode conviver e viver em verdadeira comunidade.
De acordo com o FT, este novo conceito de urbanismo representa, ele próprio, a nova vaga de popularidade das cidades. O ressurgimento urbano irá continuar, sabe-se hoje, até 2050, ano em que se espera que 75% da população mundial viva na cidade.
Outras das características dos novos subúrbios centrais: casas para uma só pessoa – em vez de familiares –, destinadas a cidadãos que procuram lazer, entretenimento e diversão social.
“Muitos dos novos subúrbios são agora edifícios no centro da cidade com uma história falsa. Nascem em centros de retalho ou edifícios governamentais”, explicou ao FT John Archer, director do departamento de estudos culturais e literatura comparativa da Universidade do Minnesota.
Veja-se, por exemplo, o caso de Verrado, que é dado no texto. O subúrbio de Phoenix, no Arizona, cresce agora com bancos de estilo colonial, cafés de estilo europeu, que coexistem com as casas numa forma que pretende realçar a necessidade das pessoas se juntarem num centro urbano. A pé.
De acordo com uma pesquisa de 2009 da Pew Research Center, e quando questionados se preferiam viver numa cidade, num subúrbio, numa área rural ou numa pequena cidade, 25% dos respondentes escolheram os subúrbios, contra 30% que escolheu a hipótese de viver numa cidade pequena.
Paralelamente, os típicos subúrbios norte-americanos também estão a mudar de uma zona puramente residencial – e isolada – para tentar chegar a outras áreas residenciais e incorporar negócios e lazer, locais onde se possa ir a pé.
“Os subúrbios estão a ser reestruturados. Os centros comerciais estão a tornar-se em vilas urbanas”, explicou também ao FT Anthony Towshend, director de desenvolvimento tecnológico do Institute for the Future, de Palo Alto.
Numa altura em que as alterações climáticas estão nas principais agendas globais, o facto dos subúrbios – sobretudo os norte-americanos – dependerem em grande escala dos automóveis também está a reequacionar o seu próprio futuro.
Para além da construção de novas estruturas de transportes, há também uma nova tendência que está a transformar os subúrbios: o teletrabalho. O que, está claro, irá obrigar ao redesenho de toda esta gigantesca área cinzenta desprovida de vida de rua e, durante o dia, de pessoas.
Será que esta nova tendência chegará a Portugal? E quando? Ou será que os nossos subúrbios já são, eles próprios, exemplos de comunidades enraizadas na vida de rua das grandes cidades?