Os perigos invisíveis dos resíduos eléctrónicos (com FOTOS)



O designer Shaun Flynn vivia perto de Nova Deli, na Índia, quando decidiu explorar o sector dos resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos (REEE) e perceber para onde vão estes aparelhos quando chegam ao – cada vez mais rápido – fim de vida.

“[São os mais pobres] que estão na linha da frente deste problema, mesmo que não sejam os seus criadores”, explicou Flynn ao CityLab, argumentando a escolha pelo tema. “É um assunto bem feio”.

Em todo o mundo, a grande parte dos resíduos electrónicos acabam em lixeiras, onde os catadores retiram as partes – ainda – valiosas e as enviam para redes informais e muitas vezes não-reguladas de comércio. Na verdade, entre 80 a 95% dos resíduos electrónicos são reciclados pelo sector informal, com os consequentes custos ambientais e de saúde para os cidadãos que tratam do processo de recolha de materiais.

Estes catadores procuraram metais como cobre, prata e ouro, para lucros mínimos: em todo o mundo, a reciclagem de um milhão de telemóveis por ano pode gerar 22 quilos de ouro, 250 quilos de prata, nove quilos de paládio e nove toneladas de cobre.

Por outro lado, a taxa de EEE que são deitados fora está a aumentar rapidamente: trocamos de telemóvel de um a três anos; de computador entre três a quatro anos; de acessórios para o computador em menos de dois anos; de máquinas fotográficas ou de vídeo de três a cinco anos; e de televisões entre cinco a sete anos, segundo o relatórios Electronics Take Back Coalition, de Setembro de 2013.

Em Maio de 2011, a EPA estimava que entre 20 a 50 milhões toneladas de resíduos electrónicos eram deitados fora todos os anos. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 3,4 milhões de toneladas de resíduos electrónicos são gerados por ano, ainda que apenas 25% destes são reciclados.

O problema? Os resíduos electrónicos não cheiram mal

A pesquisa de Shaun Flyn foi realizada em parceria com os alunos do Parsons School of Design e deu lugar ao documentário e-Waste Tsunami, um relatório que inclui uma série de fotografias e filmes que vão percorrer várias cidades norte-americanas.

O designer chegou à conclusão de que é fácil descartarmos as consequências nefastas de não reciclarmos um aparelho electrónico, uma vez que estas não são imediatamente visíveis. Ao contrário do material que acaba nos esgotos ou da comida apodrecida, por exemplo, os resíduos electrónicos não cheiram mal. No entanto, as consequências negativas para a saúde estão lá, como prova uma série de 23 estudos epidemiológicos realizados na população do sudeste chinês e publicados no The Lancet Global Health.

O estudo confirma uma relação entre a exposição a resíduos electrónicos e disfunção da tiróide e aumento do número de abortos espontâneos. Outro estudo, datado de 2008, recolheu pó de centrais de reciclagem informais de placas de circuito na província de Guandgdong. Os habitantes destas áreas podem inalar ou ingerir pós com metais pesados, que podem causar danos ao sistema nervoso ou órgãos. E são as crianças, que mais tempo passam ao ar livre, a brincar, que correm mais perigo.

Outro dos países que mais equipamentos eléctricos e electrónicos recebe é o Gana. Em 2008, o catador ganês Israel Mensah, de 20 anos, recordou ao National Geographic que o gás destas lixeiras informais sobe pelo nariz e leva-o a sentir tonturas. “Ficamos com dores na cabeça e no peito”, explicou.

Finalmente, Flynn conclui que as prioridades no que toca ao planeamento do ciclo de vida do produto estão trocadas. As responsabilidades podem ser partilhadas pelos designers, economistas, consumidores, políticos ou legisladores e municípios.

Na Europa, o volume de aparelhos eléctricos e electrónicos incorrectamente geridos (4,7 milhões de toneladas) é dez vezes maior do que o dos resíduos electrónicos exportados para outros países sem documentação (400.000 toneladas), de acordo com uma investigação de dois anos sobre o funcionamento do mercado de Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos (REEE).

Em Portugal, entidades como a Amb3E – que gere a Rede Electrão – são responsável pela recolha e encaminhamento para tratamento e valorização de mais de 36.000 toneladas de resíduos de equipamentos eléctricos e electrócnicos e resíduos de pilhas e acumuladores anualmente gerados em Portugal, sendo ainda responsável por várias iniciativas de apelo à reciclagem de EEE, como o Quartel Electrão e Escola Electrão.

A Amb3E é responsável, também, pela recolha e encaminhamento de lâmpadas usadas. Saiba onde as podem deixar.

 

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