Oxfam acusa Banco Mundial de falta de transparência no financiamento climático

As instituições financeiras internacionais multilaterais, como o Banco Mundial, são elementos fundamentais dos esforços de mitigação e adaptação das populações mais pobres do mundo face aos efeitos das alterações climáticas. No entanto, a falta de transparência sobre os investimentos feitos poderá levantar dúvidas sobre se os compromissos assumidos publicamente estão, realmente, a ser cumpridos.

A Oxfam, organização internacional não-governamental que procura erradicar a pobreza no mundo, revela que, em 2020, o Banco Mundial declarou ter entregado aos países na linha da frente das alterações climáticas, em forma de empréstimos ou doações, cerca de 21 mil milhões de euros em financiamento climático, cerca de 56% de todo o financiamento fornecido pelos bancos mundiais para o desenvolvimento.

Contudo, a mais recente análise da organização, com base em informação disponibilizada publicamente, revela que até 40% desse financiamento, perto de sete mil milhões de euros, “não pôde ser verificado independentemente”.

Dessa forma, os autores do relatório sugerem que as declarações do Banco Mundial poderão ser imprecisas e que a quantia divulgada poderá estar bastante abaixo do valor anunciado.

Nafkote Dabi, responsável de políticas climáticas internacionais da Oxfam, afirma que “não podemos ter a certeza do valor real” e que a organização teme o pior cenário, em que o Banco Mundial tenha “exagerado significativamente” a sua contribuição para os países mais afetados pelas alterações climáticas.

“A única forma de ter confiança no financiamento climático do [Banco Mundial] é através da divulgação pública de documentação”, aponta a Oxfam, acrescentando que “ter essa informação permitirá aos stakeholders responsabilizar o Banco e os governos [que recebem esses fundos]”.

“O Banco reveste-se de uma importância única entre os fornecedores de financiamento climático, na medida em que frequentemente estabelece padrões para outras instituições”, apontam os autores, destacando que “para o bem ou para o mal, a sua influência vai além das decisões de financiamento”, passando pela criação de conhecimento e pela promoção da adesão a normas e padrões globais no âmbito ambiental.

A Oxfam afirma que o aumento da transparência do Banco Mundial permitirá afastar suspeitas de que as declarações de financiamento climático sejam meras cortinas de fumo usadas para promover o chamado ‘greenwashing’, a prática através da qual entidades dizem seguir políticas de proteção ambiental, mas, na verdade, não passam de estratégias de relações públicas sem efeitos reais.

“Sem melhores práticas de divulgação, o Banco Mundial exige demasiado da nossa boa-fé ”, frisa a Oxfam, sentenciando que “o financiamento climático é demasiado importante para que o possamos fazer dessa forma”.