Pandemia espelha rutura provocada pelo homem no ambiente, defende WWF
“A natureza está a diminuir globalmente a taxas sem precedentes em milhões de anos. A forma como produzimos e consumimos alimentos e energia e o flagrante desprezo pelo meio ambiente, enraizado no nosso modelo económico atual, levou o mundo natural aos seus limites”, escreve Marco Lambertini no documento intitulado Planeta Vivo 2020.
A covid-19, considera, é “uma manifestação clara” da rutura na relação com a natureza.
“É hora de respondermos ao SOS da natureza. Não apenas para garantir o futuro de tigres, rinocerontes, baleias, abelhas, árvores e toda a incrível diversidade de vida que amamos e com a qual temos o dever moral de conviver, mas porque ignorá-lo também coloca a saúde, o bem-estar e a prosperidade, na verdade o futuro, de quase oito mil milhões de pessoas em jogo”, adverte o responsável pela WWW (World Wide Fund for Nature).
O relatório foi apresentado em Portugal na quarta-feira, numa conferência ‘online’ sob embargo até hoje, em parceria com a ANP (Associação Natureza Portugal), para a qual a única forma de reduzir o impacto humano no planeta é “consumir menos” e procurar alcançar o objetivo zero na extinção de espécies.
De acordo com o relatório, o índice global do planeta vivo continua em declínio, com uma redução média de 68% na população de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes entre 1970 e 2016.
“Uma redução de 94% para as sub-regiões tropicais das Américas é a maior queda observada em qualquer parte do mundo”, lê-se no relatório anual da organização de conservação da natureza WWF.
Para os anfíbios, as doenças e a perda de habitat são as maiores ameaças.
A Mata Atlântica no Brasil perdeu 87,6% da vegetação natural desde 1500, principalmente durante o século passado, o que levou a pelo menos duas extinções de anfíbios e 46 espécies ameaçadas de extinção.
Mais de 2.000 espécies de anfíbios estão ameaçadas de extinção, segundo os números apurados pela WWF.
Quase uma em cada três espécies de água doce estão igualmente ameaçadas de extinção.
Em 3.741 populações monitorizadas – representando 944 espécies de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes – o Índice do Planeta Vivo em Água Doce diminuiu em média 84%, o equivalente a 4% ao ano desde 1970.
“A maioria dos declínios observam-se em anfíbios de água doce, répteis e peixes e são registados em todas as regiões, particularmente na América Latina e nas Caraíbas”, lê-se no relatório.
“A influência da humanidade no declínio da natureza é tão grande que os cientistas acreditam que estamos a entrar numa nova época geológica, a Antropoceno”, frisa a WWF.