Partículas de poluição no ar podem estar a agravar o grande declínio dos insetos



Os insetos são dos grupos de animais que mais estão a sofrer com a atual crise global da biodiversidade. As alterações dos seus habitats, a expansão de práticas agrícolas intensivas e insustentáveis e os efeitos das alterações climáticas estão a causas grandes perdas nas populações desses invertebrados.

E uma nova ameaça pode estar a intensificar as perdas: a poluição do ar. Uma investigação de cientistas das Austrália, China e Estados Unidos da América (EUA) revela que as partículas resultantes da queima de combustíveis fósseis, dos incêndios e de outras fontes de poluição estão a reduzir a capacidade dos insetos para encontrarem alimento, e a agravar o declínio das populações dessas espécies um pouco por todo o planeta, mesmo em regiões remotas.

Explicam os cientistas que os insetos usam as suas antenas, equipadas com sensores olfativos, para detetarem no ar partículas que são emanadas por fontes de alimento. Além disso, é através desses estruturas sensíveis que os insetos identificam e localizam potenciais parceiros para reprodução e até locais onde possam depositar os seus ovos.

No entanto, as partículas geradas pela poluição que circulam no ar acabam por bloquear esses sensores, criando uma barreira que impede que as antenas dos insetos sejam capazes de detetar outros odores.

Este imagem microscópica mostra as antenas de uma mosca livres de partículas de poluição (à esquerda), e as antenas repletas de partículas (à direita), marcadas com pequenas cruzes amarelas.
Foto: Artigo

“Embora saibamos que a exposição a matéria particulada pode afetar a saúde dos organismos, incluindo os insetos, a nossa investigação mostra que também reduz a capacidade fundamental dos insetos para detetarem odores de alimento e de parceiros”, explica Mark Elgar, da Universidade de Melbourne e um dos autores do artigo publicado este mês na ‘Nature Communications’.

O cientista alerta que a poluição que circula no ar “pode resultar no declínio das populações” de insetos, organismos fundamentais para a polinização das espécies vegetais, incluindo aquelas das quais a alimentação humana depende, bem como os ciclos de nutrientes, que são essenciais para a saúde dos solos.

Estima-se que atualmente cerca de 40% da superfície terrestre do planeta esteja exposta a concentrações de partículas de poluição que excedem os níveis considerados como seguros pela Organização Mundial da Saúde. E essa poluição afeta até “muitos habitats remotos e relativamente pristino e áreas de importância ecológica”, afirma Elgar, uma vez que as partículas “podem ser transportadas ao longo de milhares de quilómetros pelas correntes de ar”.

Os investigadores escrevem que “a diversidade e abundância dos insetos terrestres estão em declínio em quase todas as regiões biogeográficas, sugerindo que a função e estabilidade quer de ecossistemas naturais, quer de antropogénicos estão em risco”, e apelam a que sejam realizados mais trabalhos que permitam perceber os verdadeiros impactos da poluição do ar na capacidade dos insetos para detetarem os odores de parceiros e de alimento.

Se a quantidade de partículas poluentes no ar não foi reduzida, tudo aponta para que as populações de insetos continuem a sua trajetória decrescente, com impactos que vão muito além das próprias espécies podendo mesmo pôr em risco a segurança alimentar, e a estabilidade, das sociedades humanas.

Mesmo níveis de poluição do ar que possam não ser considerados letais “podem diminuir a viabilidade das populações de insetos, se os machos não conseguirem detetar as fêmeas”, levando ao fracasso da reprodução e à diminuição da densidade das populações.





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