Pedro Costa: “Portugal tem de começar a pensar na compostagem”



SOU LICENCIADO em Engenharia do Ambiente e o tema “sustentabilidade” sempre me fascinou. Acredito que seja o caminho para uma sociedade mais justa, onde há oportunidades para todos e, se houver bom senso, é possível ter qualidade de vida com baixo custo energético e económico.

Para mim, o segredo será aproveitar o desperdício dos outros.

Hipoteticamente, podemos ordenar o nosso território em três grandes zonas: as zonas citadinas (que vivem essencialmente do turismo e da prestação de serviços), as zonas industriais (como, por exemplo, parques industriais, onde há a produção de um determinado bem) e as zonas agrícolas (que servem de subsistência alimentar para as outras grandes zonas).

A ideia de comunidade ecologicamente sustentável é boa, no entanto, a meu ver, é utópica. É possível adoptar algumas ideias desta, no entanto, ainda é impossível implementar este tipo de sistema, pelas várias nuances éticas e governamentais.

Aquilo que eu sugeria, enquanto licenciado, reside essencialmente no aproveitamento do desperdício, vivendo nós, assim, do desperdício dos outros, e como tal, vivendo uns para os outros.

Irei concentrar o meu artigo de opinião em duas zonas: citadinas, e agrícolas.

Como anteriormente disse, as cidades alimentam-se do turismo, a nível histórico, cultural e mesmo gastronómico (não fossemos nós um país de “bons pratos”). Num emprego de Verão, reparei no desperdício que os restaurantes geravam, no volume e no peso que o saco do lixo dos indiferenciados ocupava/pesava. Reparei também que todos os dias o meu patrão se dirigia às grandes superfícies (alimentadas pelas zonas agrícolas) para comprar os produtos para a preparação das várias refeições.

De facto, a maior parte das refeições eram realizadas de raiz, isto é, sem os pré-preparados de hoje em dia, e portanto, gerando grande volume de resíduos orgânicos. Um ano depois, licenciatura tirada, voltei a reparar no mesmo, no entanto, com as bases académicas mais fortificadas, pensei, e pensei e voltei a pensar no assunto.

Existe uma alternativa viável que hoje em dia poderá ajudar a optimizar o sistema, a compostagem (processo natural de elevada eficiência). Aliando ao bom senso por parte dos produtores de resíduos (restaurantes) e a uma recolha selectiva bem definida por parte das entidades gestoras de resíduos é possível aproveitar este desperdício e transformá-lo num bem essencial aos solos agricultas, um adubo orgânico que colmata o défice de nutrientes nos solos.

Tratando-se de um processo simples, onde a maquinaria necessária não ultrapassada uma vulgar empresa do ramo industrial, há deveras vantagens que poderiam vir desta prática, entre as quais passo a citar: aumento da fertilidade dos solos a médio e longo prazo; melhoria da qualidade da água dos rios (normalmente perto das zonas agrícolas), uma vez que à uma maior fixação de nutrientes no solo e, portanto, um menor escoamento destes para as águas; produto agrícolas mais saudáveis; reaproveitamento de um resíduo que se porventura não fosse reutilizado iria para aterro; criação de emprego e potenciamento de uma economia verde.

Penso que seja pertinente que o nosso país comece a pensar nisto, pois o volume de produção oriundo da compostagem ainda é demasiado pequeno para o potencial que este tem. Tendo nós, como país da EU, a necessidade de aumentar a nossa taxa de reciclagem para 50% até 2020, é pertinente desde já começar a pensar em alternativas viáveis.

Pedro Joel Rodrigues da Costa (joel12510@hotmail.com), de Guimarães, é licenciado em Engenharia do Ambiente e leitor do Green Savers. Quer publicar o seu artigo no nosso agregador? Envie-nos o seu texto para info@greensavers.sapo.pt ou cmartinho@gci.pt. Estamos à procura da sua inspiração ou desabafo.





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