Periquitos usam ‘impressão vocal’ para serem reconhecidos em bandos ruidosos



As aves da família dos Psitacídeos, que inclui os papagaios, araras e periquitos, são conhecidos por serem ‘faladores’ inveterados. Ao longo das suas vidas, podem aprender novos sons e arranjos, pelo que o seu repertório vocal é praticamente ilimitado.

Mas, vivendo em grandes bandos barulhentos, precisam de conseguir, mesmo por entre toda a algazarra, ser identificados pelos membros do seu grupo. Uma recente investigação científica revela que os periquitos-monge (Myiopsitta monachus) desenvolveram o que se pode considerar uma ‘impressão vocal’, um tom de voz específico e único de cada indivíduo, tal como acontece nos humanos.

Periquitos-monge num parque em Bruxelas.
Foto: Szilas / Wikimedia Commons

“É uma solução elegante para uma ave que altera dinamicamente os seus chamamentos, mas que continua a precisar de ser reconhecida num bando muito barulhento”, explica, em comunicado, Simeon Smeele, investigador do Instituto Max Planck para o Comportamento Animal e primeiro autor do artigo divulgado esta quarta-feira na ‘Royal Society Open Science’, no qual se dá conta da descoberta.

Embora tenham uma grande flexibilidade vocal, os humanos conseguem regra geral, reconhecer outros apenas através da voz, através daquela ‘impressão vocal’. Não é sem razão que alguns sistemas de segurança, que usam dados biométricos, são ativados pela voz.

Outros animais, como aves, golfinhos e morcegos, produzem arranjos sonoros que têm como objetivo distingui-los de outros membros do grupo, uma espécie de ‘chamamento de identidade’, mas estão limitados a apenas um tipo de chamamento. De acordo com estes investigadores, até agora não havia qualquer evidência científica que apontasse para a existência de uma assinatura vocal que estivesse presente em todos os tipos de chamamentos.

Mas agora sabe-se que, pelo menos uma espécie, o periquito-monge, tem uma ‘impressão vocal’ que permite aos membros do grupo saberem quem ‘fala’ mesmo que o orador esteja a vocalizar outros chamamentos que não o da identidade.

Vivendo em grandes bandos ruidosos, os periquitos-monge desenvolveram uma ‘impressão vocal’, um timbre único de cada indivíduo, tal como os humanos, que lhes permite serem reconhecidos por outros membros independentemente da vocalização produzida.
Foto: Dinkum / Wikimedia Commons

Os Psitacídeos, ao contrário de outras aves, usam a língua e a boca para produzirem sons, tal como os humanos, fazendo com que as suas vocalizações sejam tão estranhamente semelhantes às nossas, e razão pela qual algumas espécies conseguem mesmo imitar o nosso discurso.

Para esta investigação, Smeele viajou até Barcelona, onde, em colaboração com especialistas do Museu de Ciências Naturais local, estudou os periquitos-monge, espécie invasora que tende a formar grandes grupos nas cidades. Através da gravação dos sons produzidos e da análise do timbre de cada um dos indivíduos, os investigadores concluíram que, de facto, essas aves têm uma ‘impressão vocal’, que, segundo Smeele, “pode permitir que os indivíduos se reconheçam uns aos outros independentemente do que estejam a dizer”.

A equipa diz que agora os resultados precisam de ser confirmados com novos testes, para que se possa realmente afirmar, sem sombra de dúvida, que os periquitos-monge têm timbres específicos que podem ser ouvidos em qualquer vocalização. E o que for possível aprender sobre como os periquitos-monge comunicam uns com os outros pode ser alargado a outras espécies.

“Espero que estas descobertas motivem mais trabalho para descobrir as impressões vocais noutros animais sociais que podem modificar, de forma flexível, as suas vocalizações, como golfinhos e morcegos”, diz Juan Carlos, do Museu de Ciências Naturais de Barcelona.





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