Pesca: Anualmente, são perdidas no mar redes suficientes para cobrir toda a Escócia, estimam cientistas



Todos os anos, dois por cento do material usado na pesca acaba por perder-se ou ser abandonado nos oceanos em todo o mundo. Os cientistas apontam que essa é uma das maiores causas da poluição marinha, “com amplos impactos sociais, económicos e ambientais”.

Num artigo publicado recentemente na revista ‘Science’, investigadores da Universidade da Tasmânia, na Austrália, estimam que, todos os anos, 2.963 quilómetros quadrados (km2) de rede de emalhar, 75.049 km2 de redes de cerco, 218 km2 de redes de arrasto e mais de 25 milhões de armadilhas são deixadas à deriva nos mares. No seu conjunto, a quantidade de redes perdidas, as chamadas ‘redes fantasma’, seria suficiente para cobrir todo o território da Escócia.

Além disso, calcula-se que 739.583 km de espinhel, um tamanho quase duas vezes superior à distância entre a Terra e a Lua, são também abandonados nos oceanos, colocando em risco a vida marinha, bem como a própria navegação.

Os cientistas afirmam que a sustentabilidade da pesca é essencial para a segurança alimentar, para os rendimentos e para as economias de comunidades em todo o mundo, pelo que os materiais deixados nas águas marinhas colocam em risco tudo isso, provocando “impactos socioeconómicos e ambientais negativos” e intensificando as pressões originadas pela sobrepesca, pela redução das populações de peixes e pelas alterações climáticas.

As redes de pesca e outros utensílios dessa atividade são uma das principais fontes da poluição marinha a nível global, alertam, acrescentando que o abandono desse materiais nos mares “é cada vez mais reconhecido como tendo um impacto substancial nos oceanos do mundo”.

Os autores explicam que entidades internacionais como as Nações Unidas e a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) têm desenvolvido e implementado programas e regulamentos com o objetivo de reduzir a presença desses materiais e os seus impactos nos oceanos, através da sua recuperação, da limitação de práticas destrutivas e da melhoria dos sistemas de descarte.

Com este estudo, os cientistas pretendem pôr cobro à escassez de dados fiáveis acerca da quantidade de redes abandonadas nos mares, indicando que “informação insuficiente” levanta obstáculos ao desenho de modelos de gestão mais eficazes e à conceção das políticas, a nível global e regional, necessárias para combater esse flagelo marinho.

Através de entrevistas a 451 pescadores de sete países (Estados Unidos, Islândia, Belize, Peru, Marrocos, Indonésia e Nova Zelândia) e da sua contextualização em dados globais sobre a atividade piscatória, os cientistas perceberam que uma porção significativa dos materiais de pesca foram perdidos por embarcações de menores dimensões. Assim, foi concluído que as tecnologias de navegação e materiais de pesca de melhor qualidade permitiram às embarcações maiores reduzir a quantidade de material perdido.

Os autores argumentam que a análise que realizaram mostra quantidades menores de material de pesca perdido do que indicam números recolhidos em 2019, sugerindo que essa diminuição se poderá dever à melhor qualidade dos materiais usados, bem como à tecnologia mais avançada e de maior precisão que transportam a bordo.

Além disso, apontam que essa redução se poderá também dever à aplicação de mecanismos de gestão da pesca, que facilitam a localização dos materiais perdidos e a sua recuperação.

De acordo com o World Wildlife Fund (WWF), “o material de pesca abandonado é a forma de resíduo plástico mais mortífero para a vida marinha” e que é responsável por afetar negativamente 66% de todas as espécies marinhas de mamíferos, metade das espécies de aves marinhas e todas as espécies de tartarugas marinhas, “frequentemente sujeitando-os a mortes lentas, dolorosas e desumanas”.

A organização ambientalista acrescenta que as ‘redes fantasma’ “também danificam habitats marinhos vitais, como recifes de coral e manguezais”, ameaçando fontes de alimento e de sustento de comunidades costeiras e de pescadores.

A WWF, num relatório de 2020, estima que pelo menos 10% da poluição marinha seja causada por resíduos da atividades piscatória, e que, desde 1997, o número de espécies que ficam presas nas redes abandonadas ou que ingerem materiais de plástico duplicou, de 267 para 557.





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