Pesca de tubarões continua a crescer globalmente. Insustentabilidade pode levar à extinção de espécies



Entre 2012 e 2019, o número de tubarões capturados e mortos em todo o mundo devido a atividades de pesca aumentou de 76 milhões para 80 milhões. Desse total, cerca de 25 milhões pertenciam a espécies ameaçadas de extinção e a mortalidade aumentou em 4% nas zonas costeiras, embora tenha reduzido perto de 7% em alto mar.

Os dados são apresentados por uma equipa de investigadores que, num artigo publicado na revista ‘Science’, fez o que diz ser o primeiro estudo global para aferir a eficácia das medidas que têm vindo a ser implementadas para reduzir os níveis de mortalidade dos tubarões. Ao abranger 150 países, territórios e zonas em águas internacionais, a investigação revelou que é preciso fazer mais para proteger estes animais e impedir que algumas espécies desapareçam, sobretudo reforçando as medidas para combater a captura para os mercados de barbatanas de tubarão.

Os cientistas dizem, em comunicado, que, nas últimas décadas, centenas de milhões de tubarões foram mortos com o único objetivo de remoção das suas barbatanas, algo ainda muito apreciado, especialmente na Ásia, para fazer “uma tijela de caldo sem sabor e gelatinoso que muitos acreditam ter benefícios medicinais, apesar da falta de provas científicas”.

Depois de capturarem os tubarões e de os içarem para bordo, os pescadores cortam-lhes as barbatanas dorsal e peitorais, com os animais muitas vezes ainda vivos, e devolvem o corpo ao mar, onde acabam por hemorragia ou asfixia, uma vez que a sua respiração está dependente do movimento.

Na União Europeia, a prática, conhecida como ‘finning’, é proibida desde 2003, e vários outros países têm seguido a mesma via, aplicando medidas para reduzir a mortalidade de tubarões, seja para abastecimento dos mercados de barbatanas ou devido a capturas acessórias.

Tubarão-martelo apanhado numa rede de pesca.
Foto: Toby Matthews / Ocean Image Bank

No entanto, a mortalidade continua a subir, com Boris Worm, da Universidade Dalhousie (Canadá) e primeiro autor do artigo, a afirmar que a legislação para combater o finning “não reduziu a mortalidade no geral”, embora medidas aplicadas ao nível regional tenham surtido algum efeito.

“Demasiados tubarões estão a morrer e isso é especialmente preocupante para espécies ameaçadas, como os tubarões-martelo”, salienta o biólogo.

Por sua vez, Darcy Bradley, da Universidade da Califórnia e da organização conservacionista The Nature Conservancy, que também assina o artigo, avisa que “a pesca insustentável de tubarões é um problema global por resolver que poderá, eventualmente, levar à extinção de algumas das espécies mais antigas e veneradas do nosso planeta”.

A investigadora destaca que apesar de todas as regras, leis e medidas de proteção que têm vindo a ser implementadas para acabar com a pesca excessiva desses animais, “o número total de tubarões que são mortos por pescarias todos os anos não diminuiu. Quando muito, está a aumentar ligeiramente”.

Os autores consideram que a proteção dos tubarões deve ir além do combate ao finning e procurar reduzir ao máximo todas as capturas. Isto, porque embora se possa ver um enfraquecimento nos mercados de barbatanas de tubarão, outros começam a crescer e mantêm a pressão sobre esses animais.

Leonardo Feitosa, biólogo brasileiro e investigador da Universidade da Califórnia, avisa que, apesar de a procura por barbatanas de tubarão poder estar em contração em algumas regiões, “a procura pela carne de tubarão está a crescer, com o Brasil e a Itália a serem os principais consumidores”. Isto, “porque a carne de tubarão é um substituto relativamente barato para outros tipos de peixes”.

E diz mesmo que alguns consumidores podem estar a comer carne de tubarão sem saberem, uma vez que o produto estará, em algumas circunstâncias, a ser mal identificado propositadamente como peixe.

Ainda assim, o impulso que se tem observado nas últimas décadas para travar a perda de tubarões e pôr termo ao finning, com a pressão pública a ser instrumental para mudar práticas empresariais e as atuações dos governos, revela que é possível, e necessário, ir mais longe para proteger os grandes predadores dos mares e oceanos.





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