Petroleiro abandonado no Mar Vermelho com um milhão de barris de petróleo pode causar desastre ambiental catastrófico a qualquer momento
O petroleiro com 45 anos e em avançado grau de degradação, tem um milhão de barris de petróleo no seu porão.
Há mais de cinco anos que o FSO Safer está atracado no Iémen, tendo sido abandonado pela empresa proprietária devido à guerra existente na região que impossibilitou a sua reparação ou deslocação.
Especialistas ambientais alertam que é apenas uma questão de tempo antes que os 34 tanques de armazenamento do petroleiro FSO Safer afundem no mar, causando um derramamento de óleo quatro vezes maior que o desastre do Exxon Valdez em 1989.
“Um vazamento de 1 milhão de barris garante um desastre ambiental e humanitário regional”, alerta um novo estudo.
Seria a total “devastação para a saúde e o sustento de milhões de pessoas que vivem em meia dúzia de países ao longo da costa do Mar Vermelho. O ar que respiram, os alimentos que recolhem no mar e a dessalinização da água estão todos em risco imediato.”
De acordo com o estudo, as correntes locais garantirão a distribuição de óleo para os recifes de coral que cobrem quase todos os 4.000 quilómetros da costa do Mar Vermelho.
O Golfo de Aqaba, que fica no canto norte do Mar Vermelho, é o lar de um dos ecossistemas de recife mais intocados do mundo, e os seus corais têm se mostrado notavelmente resistentes ao aumento das temperaturas e à acidificação do oceano. Com um desastre desta magnitude, pode ser o fim desta sobrevivência.
Em maio deste ano, uma rutura no casco do Safer foi temporariamente remendada. Pouco depois, em setembro, houve indicação de ter sida descoberta uma mancha de petróleo perto do navio. Nenhum destes relatórios foi verificado, contudo o estado geral do petroleiro não deixa margem para dúvidas: a qualquer momento pode começar a derramar petróleo.
“Está claro a partir da análise que no inverno a dispersão do óleo vai estender-se mais ao norte e no centro do Mar Vermelho, em comparação com um derramamento que se dispersa durante o verão”, escrevem os autores do estudo
“Portanto, medidas devem ser tomadas antes do inverno, já que um derramamento de inverno garante que o petróleo se espalhará mais ao norte e ficará preso por mais tempo no Mar Vermelho.”
A boa notícia é que as forças rebeldes finalmente concordaram em deixar a ONU inspecionar e consertar o petroleiro, de acordo com o The New York Times. A má notícia é que essa manutenção foi adiada para janeiro.
A última vez que as forças rebeldes concordaram em deixar a ONU intervir no petroleiro foi no verão de 2019, mas mudaram de ideias na noite anterior.
“Agora é a hora de evitar uma possível devastação nas águas da região e nos meios de subsistência e saúde de milhões de pessoas que vivem em meia dúzia de países ao longo da costa do Mar Vermelho”, disse a investigadora de corais Karine Kleinhaus, da Stony Brook University, em Nova York.
“Se um vazamento do Safer ocorresse, o petróleo espalhar-se-ia pelas correntes oceânicas de forma a devastar um recurso oceânico global, já que os recifes de coral do norte do Mar Vermelho e do Golfo de Aqaba estão entre os últimos ecossistemas de recife no mundo.”
Na maioria das vezes, os derramamentos de óleo são uma surpresa – pelo menos a ponto de não sabermos quando ocorrerão. Mas os investigadores dizem que este é o aviso mais avançado de um grande vazamento que já tivemos, mas estamos a desperdiçar a oportunidade de detê-lo.
Especialistas ambientais há muito descrevem o Safer como uma ‘bomba flutuante’ e, dado que o próprio petróleo foi deixado a apodrecer, alguns diplomatas acham que os rebeldes estão a utilizar este navio como moeda de troca, um pouco “como ter uma arma nuclear”.
Com o preço certo, os funcionários da ONU podem ser capazes de remediar a situação, mas a quem pagar e quanto ainda está em intensa negociação.
Em julho, um grupo ambientalista iemenita estimou que levaria 30 anos para que o meio ambiente recuperasse se o Safer afundar, e mais de 126.000 pessoas somente neste país poderiam perder os seus meios de subsistência com a poluição resultante.
O estudo foi publicado na Frontiers in Marine Science.