Plantas ‘carnívoras’ podem ter desenvolvido odores específicos para atrair as suas presas preferidas



Não só da energia produzida pela fotossíntese se alimentam as plantas. Algumas desenvolveram técnicas peculiares, dignas de filmes de ficção-científica, e que são a prova de que, ao contrário do que possamos pensar, o mundo vegetal não é estático.

As plantas a que habitualmente chamamos ‘carnívoras’ são, mais do que qualquer outra coisa, insetívoras, e evoluíram para se alimentarem de animais, uma vez que nos habitats onde vivem os solos podem ser demasiado pobres em nutrientes para apenas se alimentarem deles ou por serem florestas demasiado densas onde a luz solar é bloqueada pelas copas de árvores grandes e antigas e mal chega perto do solo.

Apesar de se conhecer relativamente bem a morfologia e cores dessas plantas, pouco ainda se sabe sobre os aromas por elas produzidos e que são o chamariz que atrai até elas presas incautas que acabam por se transformar em refeições.

Um grupo de cientistas das universidades de Sorbonne e de Montpellier, em França, procurou saber qual o papel desempenhado pelo odor na técnica de captura de presas da família Sarracenia, um grupo de plantas insetívoras em forma de jarro que atraem os insetos e que, depois de esses caírem dentro do ‘copo’ e aí ficarem aprisionados, são digeridos por uma sopa de sucos para que a planta possa absorver os nutrientes.

A planta Sarracenia purpurea usa odores para atrair os insetos dos quais se alimenta, e os cientistas acreditam que os aromas podem ser especificamente criados para atrair uns insetos mais do que outros.
Foto: Wilson44691 / Wiki Commons

Num artigo divulgado esta quarta-feira na revista ‘PLOS One’, os cientistas revelam que, ao analisarem os odores produzidos por algumas espécies de Sarracenia, perceberam que os componentes químicos de alguns dos cheiros são muito semelhantes aos produzidos por outras plantas, por flores ou frutos. Dizem os cientistas que estas plantas insectívoras aprenderam a explorar em seu benefício os sentidos das suas presas.

“Os nossos resultados são importantes, porque sugerem que estas plantas carnívoras não são passivas, mas que podem escolher as suas presas”, afirma Laurence Gaume, investigador da Universidade de Montpellier e um dos autores do estudo.

O cientista considera também que estas táticas odoríferas podem servir de inspiração para estratégias de controlo de pragas, pois, sabendo quais os cheiros que mais atraem determinado tipo de inseto, mais fácil poderá ser afastá-los das culturas agrícolas através de ‘chamarizes aromáticos’.

Dizem estes investigadores que os odores produzidos pelas plantas Sarracenia são praticamente indetetáveis para os sentidos humanos, mas que são facilmente captados pelas antenas dos insetos. O que não é de surpreender, uma vez que os aromas produzidos pelas plantas não são para o nariz do Homo sapiens, mas sim para os insetos e outros animais que, por exemplo, ajudam as plantas a disseminarem as suas sementes, os seus grãos de pólen e até a afastar outros insetos que se alimentam delas.

E nem todos os aromas são iguais. Através de experiências em laboratório, os cientistas conseguiram perceber que a maiorias das Sarracenia produzia um odor semelhante às plantas que chamam de ‘generalistas’, ou seja, que podem ser polinizadas por diversas espécies de animais. Isso faz com que a planta carnívora possa atrair um grande número de potenciais presas, aumentando as hipóteses de obtenção de nutrientes.

Contudo, algumas espécies parecem atrair maioritariamente abelhas e borboletas, e os investigadores, através da análise dos compostos orgânicos voláteis (as partículas que compõem os odores), constataram que produziam limoneno, uma substância química que é encontrada nos citrinos e que lhes dá um cheiro característico. Além disso, o limoneno faz também parte de uma família de químicos que são encontrados em cerca de dois terços das plantas com flor que atraem esses dois insetos polinizadores.

Sarracenia é um género de plantas também conhecidas como ‘plantas jarro’ devido à estrutura formada por parte das suas folhas, que formam uma espécie de recipiente repleto de sucos digestivos onde o insetos mais incautos caem e são dissolvidos, para que a planta possa absorver os nutrientes.
Foto: Tim Ross / Wiki Commons

Por outro lado, a Sarracenia purpurea, espécie sobre a qual os investigadores se debruçaram especialmente, produz um odor que contém químicos compostos por ácidos gordos, que atrai insetos predadores, como as vespas, e que compõem grande parte da dieta dessa planta. Isso leva os cientistas a crer que o odor foi especificamente concedido para chamar esses insetos, e não outros, o que sugere que a planta escolhe os insetos que mais prefere ingerir.

Apesar dos resultados, os investigadores dizem que são precisos mais estudos para se perceber, com maior exatidão, se existe realmente uma relação direta entre os odores produzidos pelas plantas carnívoras e as presas que constituem parte significativa da sua dieta.

Para isso, é preciso não só estudar as respostas dos próprios insetos aos odores produzidos pelas plantas carnívoras, como também analisar a composição dos cheiros produzidos por essas plantas em meio natural, uma vez que os resultados desta investigação têm por base experiência em ambiente laboratorial.





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