Plasticose: A nova doença provocada pelo plástico que está a afetar as aves marinhas



A poluição é uma das três grandes crises planetárias do nosso tempo, a par das alterações climáticas e da perda de biodiversidade. Nos oceanos, o plástico é uma das maiores ameaças à saúde dos ecossistemas e da vida marinha, representando cerca de 80% de todos os resíduos que poluem as águas desde a superfície até às profundezas mais escuras.

Estimativas conservadoras apontam que todos os anos 14 milhões de toneladas de plástico acabem nos oceanos, e os resíduos são encontrados nas regiões costeiras de todos os continentes, sobretudo em áreas com uma forte atividade turística e nas que são densamente povoadas.

Dada a quase omnipresença do plástico nos oceanos, os impactos sobre a vida marinha são hoje praticamente incontestados, afetando grandemente as aves que dependem dos mares e oceanos. Por isso, os cientistas já defendem que as aves marinhas estão a enfrentar uma nova pandemia: a plasticose.

Num artigo publicado na revista ‘Journal of Hazardous Materials’, investigadores da Austrália e do Reino Unido descrevem que esta nova doença é causada pela ingestão de pequenas partículas de plástico pelas aves, que causa a inflamação do seu trato digestivo. Ao longo do tempo, e porque esses materiais não se deterioram, os tecidos do sistema digestivo desses animais acaba por ficar deformado e repleto de lesões, afetando o seu crescimento, a sua digestão e, em última instância, pode mesmo ditar a sua morte.

Imagem microscópica de glândulas do tecido estomacal das pardelas-de-patas-rosadas que segregam sucos digestivos, essenciais à digestão e absorção de nutrientes. À direita, a estrutura saudável, à esquerda a estrutura danificada pela ingestão de partículas de plástico.
Foto: Artigo

Alex Bond, do Museu de História Natural de Londres e um dos coautores, explica que “embora essas aves possam parecer externamente saudáveis, não estão em bom estado internamente”. O cientista argumenta que este é o primeiro estudo que analisa o tecido estomacal de aves marinhas para avaliar o impacto da ingestão de plástico nesse grupo de animais.

Embora o estudo se tenha debruçado especialmente sobre a pardela-de-patas-rosadas (Ardenna carneipes), os investigadores acreditam que a plasticose poderá estar a afetar um número muito mais vasto de aves marinhas, considerando o nível de poluição por plástico que cada vez mais asfixia os oceanos.

Estudando as pardelas na ilha de Lord Howe, a 600 quilómetros da costa da Austrália, os autores consideram que essas aves são as que apresentam os mais elevados níveis de contaminação por plástico em todo o mundo. Ao analisarem os tecidos dos estômagos dessas aves, perceberam que os danos causados pela ingestão de partículas de plástico eram comuns a muitos indivíduos dessa espécie, pelo que acreditam estarmos perante uma nova doença.

Até agora, sabe-se cientificamente que a plasticose afeta negativamente o sistema digestivo das aves, mas estes especialistas avisam que a poluição por plástico pode estar também a causar danos noutros órgãos, como os pulmões.

A ingestão de plástico altera a estrutura do estômago das aves, impedindo a normal digestão dos alimentos e privando o animal da absorção de nutrientes essenciais à sua sobrevivência. Isso é especialmente problemático em aves jovens, uma vez que a deficiência nutricional afeta o seu desenvolvimento. Alguns estudos indicam que perto de 90% de todas as crias de aves ingiram alguma quantidade de plástico através da comida que lhes é fornecida pelo progenitores.

Com os estômagos cheios de plástico, as pequenas aves acabam por definhar e morrer à fome por não conseguirem fazer a digestão.





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