Poluição: Encontradas partículas de carbono no fígado, pulmões e cérebro de fetos. “É inaceitável”, diz comissário europeu



Um grupo de cientistas da Bélgica e do Reino Unido encontrou partículas de carbono negro, resultantes da queima de combustíveis fósseis, no fígado, pulmões e cérebros de fetos. A descoberta permitiu concluir que a poluição respirada pelas progenitoras durante a gravidez está a ser transmitida aos bebés através da placenta.

“Descobrimos que partículas carbonáceas de poluição atmosférica inaladas pelas mães podem atravessar a placenta e, depois, serem transportadas para os órgãos fetais humanos durante a gestação”, dizem os especialistas, alertando que as descobertas são “especialmente preocupantes”.

As partículas de carbono negro, explicam, “são produzidas durante a combustão incompleta de combustíveis e de biomassa, e estão amplamente presentes no ar que respiramos”, contribuindo, dessa forma, para o aparecimento de doenças não-transmissíveis. Ao ser inalado, esse material particulado “pode afetar negativamente a gravidez” e gerar complicações na gestação do feto, que poderá desenvolver problemas de saúde durante a infância.

Embora reconheçam que ainda não se saber ao certo como se processa a transmissão das partículas de poluição da progenitora para o feto, nem os seus efeitos concretos, os autores do estudo, publicado na revista de ciências médicas ‘Lancet’, argumentam que “uma explicação plausível” envolve a translocação dessas partículas microscópicas através da placenta para o sistema circulatório do feto durante o processo de gestação, e recordam que a placenta “é um órgão multifuncional estruturado em camadas que serve de interface entre a mãe e o feto”.

A inferência apoia-se em constatações feitas por estudos anteriores que mostram que substância medicamentosas, o álcool e componentes encontrados nos cigarros “podem atravessar a placenta e afetar o desenvolvimento fetal”.

A investigação identificou também partículas de carbono negro no sangue de cordões umbilicais, o que poderá fornecer ainda mais evidências, alegam os peritos, da sua transferência “para o sistema circulatório do feto”, e também em amostras de tecidos recolhidas de bebés após o seu nascimento.

“A gestação é conhecida como um período de elevada vulnerabilidade do feto em desenvolvimento”, elucidam, indicando que durante esse processo existe uma proliferação acelerada de células e o feto tem apenas uma capacidade limitada para reparação das suas moléculas de ADN, pelo que “é o estádio da vida durante o qual é programada a suscetibilidade a muitas doenças”.

Além disso, a exposição da mãe à poluição fará com que as partículas transmitidas através da placenta “possam afetar o desenvolvimento e a saúde do feto”, bem como em fases posteriores da vida.

Sustentando que “o nosso estudo apresenta evidências convincentes da presença de partículas de carbono negro, originárias da poluição do ar, no sistema circulatório dos fetos durante a gestação”, o coletivo científico afirma, contudo, que “é necessária mais investigação que ajude a elucidar os mecanismos através dos quais a translocação de partículas para o feto, e a consequente acumulação de carbono negro nos órgãos fetais, pode ser diretamente responsável pelos efeitos adversos observados sobre a saúde durante as primeiras etapas de vida”.

Em reação a este estudo, o comissário europeu do Ambiente, Virginijus Sinkevičius, afirma que “na Europa de 2022” encontrar “partículas tóxicas de poluição do ar” em órgãos de fetos é “inaceitável”.

“A nossa saúde depende de ar limpo e de um ambiente livre de tóxicos”, sentencia, garantindo que “até ao final de outubro, apresentarei um pacote de ‘Zero Poluição’ para mudar isso”.





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