Poluição: Mesmo as mais pequenas quantidades de óleo podem danificar as penas das aves marinhas, revela estudo



A poluição das águas do mar por derramamentos de petróleo tem profundos e negativos impactos nos ecossistemas marinhos, mas agora sabe-se que as mais pequenas quantidades de óleo podem danificar as penas das aves marinhas e colocar em risco as suas vidas.

Um trio de investigadores da Faculdade de Ciências Biológicas, da Terra e do Ambiente, da Universidade de Cork, na Irlanda, revela que, na superfície da água, uma camada de óleo com a espessura de 0,1 micrómetros, equivalente à espessura de um fio de cabelo humano, “é suficiente para aumentar a permeabilidade das penas” das aves que passam grande parte do seu tempo à tona de água a descansarem ou à procura de alimento.

O estudo baseou-se na análise das penas de fura-bucho-do-atlântico (Puffinus puffinus), “uma espécie de ave marinha que passa uma grande porção de tempo à superfície da água” e que, por isso, está “particularmente suscetível aos riscos” da poluição.

Fura-bucho-do-atlântico (Puffinus puffinus)
Fonte: Twitter / Matthew Barfield

Foi descoberto que os maiores impactos na permeabilidade das penas foram registados com camadas negras de óleo com 3 micrómetros de espessura, aumentando em quase 1000% a massa das penas. Ecoando as conclusões de estudos anteriores, os cientistas apontam que a exposição à poluição por óleos pode fazer com que as aves não consigam levantar voo, reduz a sua capacidade de flutuação e torna-as mais vulneráveis a perdas significativas de temperatura e, dessa forma, vulneráveis à ameaça de hipotermia.

“Os derramamentos de petróleo são uma forma de poluição ambiental que representa consequências imediatas e, também, a longo prazo para os ecossistemas marinhos”, alertam os especialistas, recordando que “derramamentos de larga escala têm sido frequentemente registados nas últimas décadas”, indicando como exemplos os casos dos petroleiros Exxon Valdez, no Alasca em 1989, do Sea Empress, no País de Gales, em 1996, do Prestige, em Espanha no ano de 2022, e, mais recentemente, da plataforma petrolífera Deepwater Horizon, no Golfo do México em 2010.

No entanto, explicam que “a poluição persistente ou crónica por óleo pode também afetar as populações marinhas durante escalas temporais muito maiores”, detalhando que tais fugas “ocorrem numa escala mais pequena, mas são bastante mais frequentes”, e podem, assim, “ter um impacto a longo prazo maior na vida marinha do que os derramamentos rápidos do Exxon Valdez”.

A investigação avança que “entende-se que a poluição crónica por óleo causa maior mortalidade entre as aves marinhas, quando comparada com maiores, mas menos frequentes, derramamentos”, embora reconheça que as dificuldades em estimar, com precisão, o número desses animais que morrem devido à poluição persistente.

Ainda assim, o trio de especialistas declara que “até as mais pequenas quantidades de óleo podem prejudicar a barreira das penas contra a infiltração de água”, tornando-as mais pesadas e reduzindo a sua capacidade de regulação térmica.

“Com as populações de aves marinhas a diminuírem em todo o mundo, uma perda exacerbada pela influência da poluição antropogénica, é vital perceber a dimensão de tais impactos e como esforços podem ser empreendidos para contrariá-los”, defendem, destacando que “o nosso estudo sugere que mesmo pequenos níveis de óleo podem ter efeitos negativos sérios em aves vulneráveis” e apelando a que sejam tomadas ações para reduzir a possibilidade de derrames, especialmente os crónicos, e “melhorar os padrões de infraestruturas importantes em ambiente marinho”.





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