Poluição por plástico: Ambientalistas pedem mais ambição depois de primeira versão do acordo global ser revelada



A versão zero do futuro acordo global para combater a poluição por plástico foi revelada esta segunda-feira pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP). O texto servirá de base para as negociações que decorrerão em meados de novembro em Nairobi, no Quénia, onde se espera que os vários governos do mundo alcancem um acordo legalmente vinculativo.

Embora seja ainda um trabalho em curso, o documento estabelece que o objetivo central do acordo será acabar com a poluição por plástico, incluindo nos ecossistemas marinhos, para proteger a saúde humana e o ambiente.

A poluição por plástico é uma das grandes ameaças à biodiversidade, especialmente nos mares e oceanos, mas também em terra, nos habitats costeiros e de água doce.

Em reação à divulgação desta versão preliminar, a organização ambientalista internacional WWF saudou o texto, afirmando, em comunicado, que “oferece muitas soluções eficazes que podem ajudar a por um fim à crise do plástico”.

Contudo, alerta que o documento apresenta também “uma variedade de opções fracas” que imprimem alguma “incerteza” ao texto, pelo que se anteveem “muitos desafios nas negociações para alcançarmos o nosso objetivo de um planeta livre da poluição por plástico”.

Eirik Lindebjerg, responsável da WWF para políticas sobre o plástico, salienta que esta primeira versão “é apenas o começo” e que as negociações serão “intensas”. E alerta que se os Estados não conseguirem acordar em medidas fortes e forem “tentados” em dar prioridade a opções voluntárias ao invés de vinculativas, “fracassaremos em travar o desastre da poluição por plástico que o mundo já está a experienciar”.

Lontra da espécie Hydrictis maculicollis a brincar com uma garrafa de plástico.
Foto: Derek Keats / Wikimedia Commons (licença CC BY 2.0)

Por isso, o ambientalista defende que os governos deverão, em novembro, chegar um acordo ambicioso e legalmente vinculativo a nível global, que inclua, entre outras coisas, proibições sobre produtos de plástico de utilização única e uma maior ênfase na circularidade das matérias-primas.

“Os países devem evitar contentar-se com menos do que isso”, afirma.

Numa publicação feita na rede social Twitter, Inger Andersen, diretora executiva do UNEP, escreve: “Eu insto os Estados-membros a seguirem com um acordo altamente ambicioso que nos coloque no caminho para um planeta livre de poluição”.

A poluição por plástico é um problema global

Estima-se que todos os dias seja despejada nos oceanos, rios e lagos uma quantidade de plástico equivalente à capacidade máxima de 2.000 camiões de lixo, e que todos os anos entre 19 e 23 milhões de toneladas de resíduos de plástico acabem por chegar aos ecossistemas aquáticos.

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), cerca de 80% do lixo de plástico encontrado nos mares teve origem em terra, e que perto de 20% é produzido por atividades como a pesca, o transporte marítimo e a aquacultura.

Foca presa em rede de pesca, feita de plástico.
Foto: Subhankar Chatterjee e Shivika Sharma / Wikimedia Commons (licença CC BY 3.0)

Nos ecossistemas marinhos, os resíduos de plástico são uma das maiores ameaças às espécies que deles fazem parte. Desde o mais pequeno zooplâncton aos maiores mamíferos marinhos, como a baleia-azul, os animais podem ingerir o plástico, que se acumula nos seus estômagos e pode fazer com que morram à fome, ou alojar-se nos tecidos e órgãos, onde libertam substâncias tóxicas e provocam desequilíbrios no organismo, afetando o crescimento, o comportamento e a reprodução dessas espécies.

Em 1950, eram produzidas todos os anos cerca de dois milhões de toneladas de plástico. Em 2019, a produção anual era 230 vezes superior, chegando às 460 milhões de toneladas.

Algumas estimativas apontam para que em 2050 existirá mais plástico nos oceanos do que peixes, um problema não apenas para a vida selvagem, mas para toda a vida no planeta Terra.





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