Por ano, Portugal desperdiça 100 milhões de euros ao não aproveitar o lixo orgânico
Quando os portugueses se deslocam ao contentor mais próximo para depositar os seus resíduos talvez não saibam que 40% do total daquilo que depositam corresponde a bioresíduos que podem ser valorizados para produção de energia (biogás) e de composto útil para a agricultura. Tal não acontece, acabando por se desperdiçar cerca de 100 milhões de euros por ano, segundo a associação ambientalista Zero- Associação Sistema Terrestre Sustentável.
Com base nos dados divulgados pela ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, a associação ambientalista estima que por ano das 1,86 milhões de toneladas dos bioresíduos presentes nos resíduos sólidos urbanos nacionais, mais de 1,3 milhões de toneladas continuam a ser encaminhados para aterro e para incineração, enquanto apenas 500 toneladas são valorizadas.
“Isto significa que, anualmente, é desperdiçado um enorme potencial de produção de energia renovável que poderia ser injectada na rede eléctrica nacional para consumo dos portugueses e que são inutilizados milhares de toneladas de nutrientes – e também matéria orgânica – que poderiam ser devolvidas aos solos”, alerta a associação em comunicado.
Ora, este desperdício tem um impacto real na agricultura nacional. Por ano, Portugal não está a aproveitar cerca de 100 milhões de euros em matérias fertilizantes orgânicas que poderiam ser utilizadas a baixo custo pelos nossos agricultores.
A manutenção da fertilidade do solo baseia-se num princípio fundamental: os nutrientes extraídos do solo pelas raízes das plantas devem ser repostos, na exata medida, através da aplicação de fertilizantes ou da fixação biológica do azoto com leguminosas. E isto não está a acontecer em Portugal.
Como alterar então este panorama? Entre as medidas apresentadas pela Zero, destaque para a aposta na prevenção, sensibilizando os consumidores para um consumo responsável que previna desperdício de recursos, nomeadamente os alimentares, e a fixação de metas progressivas junto dos SGRU para a recolha selectiva porta-a-porta de orgânicos.
Segundo a Zero, outra solução passaria igualmente por criar um regime de excepção para possibilitar aos municípios promoverem a reciclagem de orgânicos com recurso a pequenas centrais de compostagem, fomentando a aplicação de composto em hortas comunitárias e em bancos de terras agrícolas municipais; e incentivar a compostagem doméstica, principalmente junto dos 45% de cidadãos que vivem em moradias, são outras possibilidades, a que acresce o incentivo ao consumo de produtos locais.
Foto: via Creative Commons