Por que razão o presidente da FIA foi nomeado representante da ONU para a segurança rodoviária?
O francês Jean Todt (ao centro), histórico director da equipa da Ferrari, na Fórmula 1, e actual presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), foi este mês nomeado representante especial das Nações Unidas (ONU) para a segurança rodoviária. No entanto, este convite está a causar perplexidade junto de vários stakeholders ligados à mobilidade. Os ciclistas, por exemplo.
“Nomear Jean Todt [para este cargo] é como perguntar se as grandes tabaqueiras querem liderar a Organização Mundial de Saúde”, explicou Mikael Colville-Andersen, CEO da Copenhagenize, empresa de design especialista em mobilidade sustentável.
Hoje, Coville-Anderson partilhou no Twitter uma petição que pede ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, para retirar o convite a Jean Todt. A petição foi lançada pela associação portuguesa MUBI (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta).
“Não duvidamos que Jean Todt é uma presidente altamente competente da FIA e gestor de corridas de Fórmula 1. Mas nomear alguém que é chefe de uma ‘organização global que pretende salvaguardar os direitos e promover os interesses dos condutores e do desporto automóvel em todo o mundo’ manda uma mensagem errada ao mundo”, explica a petição.
Aquando da sua nomeação, Jean Todt comparou a mortalidade nas estradas a uma pandemia como a SIDA ou o cancro. O ex-patrão da Ferrari explicou ainda que tem o objectivo de reduzir em 50% o número de mortes nas estradas até 2030. “É uma meta difícil, mas possível de alcançar”, completou.
“Não temos razões para duvidar do comprometimento de Jean Todt em defender os interesses dos condutores e a sua segurança”, continua a petição. “No entanto, o chefe da FIA representa, legitimamente, um ‘grupo de interesses’ que irá trazer desconforto entre os nossos membros e preocupações de futuros conflitos de interesse em defender os utilizadores de estrada mais vulneráveis e sustentáveis do mundo”.
Foto: gail mrs gray / Creative Commons