Portugal: construção em taipa vem colmatar as preocupações ambientais (com FOTOS)



A terra pode revelar-se uma óptima matéria-prima para a construção de edifícios e a taipa comprova-o. Esta técnica de construção em terra crua foi, até à década de 1950, a prática mais utilizada em residências, palácios, palacetes e edifícios públicos do Alentejo e Algarve. Mas os novos tempos, juntamente com as novas preocupações ambientais que eles acarretam, prometem fazer ressurgir a taipa na arquitectura.

Aqui não se trata apenas de fazer erguer edifícios a partir da terra, mas com a terra – material ecológico, reutilizável, que não gera resíduos e tem pouca energia incorporada. “Pela crescente temática da arquitectura bioclimática e da construção sustentável, a terra é um material actual”, revela ao Green Savers Francisco Seixas, co-fundador da Betão e Taipa, empresa que se dedica à construção e reabilitação de edifícios com base em técnicas tradicionais.

Nas últimas décadas, o movimento de recuperação da taipa tornou-se mais intenso e assiste-se a uma consciencialização geral das suas inúmeras vantagens. Por se associar à sustentabilidade, ao conforto e à eficiência energética dos edifícios, a taipa começou a ganhar terreno e a revelar-se mais vantajosa do que a construção em betão e tijolo.

No que diz respeito à construção, a terra caracteriza-se pelos baixos consumos de energia, de emissões de CO2 e níveis de poluição quase nulos, informa Francisco. “Na fase de utilização do edifício, as paredes de taipa permitem uma poupança energética bastante significativa porque promovem a qualidade do ar interior e a capacidade de controlar o nível de humidade relativa”, explica.

A qualidade da técnica é tal que, na maioria das situações, os níveis de conforto no Verão e no Inverno são facilmente atingidos sem ser necessário recorrer a sistemas de aquecimento ou arrefecimento.

Construir com a terra

A vida útil das construções em taipa pode variar conforme a sua qualidade, mas existem estruturas com muitas centenas de anos que apenas necessitam de uma manutenção adequada – enquanto os edifícios de construção corrente têm uma vida útil média de 50 a 60 anos, aponta Francisco.

Para assegurar a qualidade, é imprescindível saber se o solo em causa é adequado para a construção. “Em taipa aproveitamos a terra local, mas só depois de vários testes e ensaios é que passamos à construção.”

As paredes são construídas no local – a terra ligeiramente humedecida é introduzida numa cofragem, compactada manualmente com um pilão ou com recurso a meios mecânicos.

Não há propriamente uma relação directa entre o clima e a construção em terra, o que permite a este tipo de construção estar presente em todo o mundo – a Grande Muralha da China, por exemplo, é parcialmente construída em terra. “Em França existem muitas empresas de taipa de pequena dimensão, porque as casas até 100 m2 não necessitam de licenciamento e alvarás e podem ser feitas em auto construção”, explica Francisco.

A taipa em Portugal

Em Portugal não existem muitas empresas que saibam reabilitar edifícios construídos em terra crua. O resultado são intervenções executadas com o recurso a materiais e técnicas que não são compatíveis com o existente. “Os resultados ficam à vista: a desagregação e descolamento dos revestimentos é das patologias mais comuns e que deriva da utilização de argamassa cimentícia.”

Francisco, desenhador, fundou a Betão e Taipa em 2004, em conjunto com Maria da Luz Seixas, arquitecta, quando resolveram regressar a Serpa, de onde são naturais, e recuperar valores e técnicas de construção tradicionais da região.

“O nosso posicionamento no mercado actual é principalmente a construção tradicional, total ou parcial de edifícios, com técnicas mais próximas das técnicas tradicionais e mais ecológicas.”

A empresa tem desenvolvido actividade tanto em Portugal como em Espanha, sendo que novas oportunidades de negócio se avizinham em mercados mais a norte da Europa e em África. A construção em taipa no alojamento de turismo rural Cantar do Grilo, em Serpa, ou na adega das Herdades do Rocim, em Cuba, são exemplos do uso da técnica em Portugal pela empresa.





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