Portugal é o 3º país europeu que mais captura tubarões e raias
Os “Guardiões do oceano” estão em risco de sobrevivência e o nosso país é um dos principais culpados pela sua sobrepesca.
De acordo com o relatório “Tubarões e Raias: Guardiões do oceano em crise” da Associação Natureza Portugal (ANP/WWF), elaborado em parceria com a Fundação Oceano Azul, Portugal é o terceiro país europeu com maior capturas de tubarão e raia. Em média, capturam-se 4 340 toneladas anualmente de elasmobrânquios, e em 2019, as espécies mais presentes nos desembarques foram a raia lenga, a pata roxa, a tintureira e a raia pontuada.
São conhecidas em Portugal 117 espécies de raias, tubarões e quimeras, que representam 89% da fauna existente nos mares europeus. Contudo, os dados da publicação indicam que 43% destas espécies estão ameaçadas, 11 estão classificadas como “Criticamente em Perigo” de extinção, e 3/4 das espécies têm vindo a reduzir as suas populações.
Observando a média anual de captura a nível mundial de raias e tubarões, entre 2010 e 2018, os três países com maior número de toneladas são a Indonésia (112.919 toneladas), Espanha (83.376 toneladas) e a Índia (52.020 toneladas). Em 11.º lugar vem a França, com 16.459 toneladas, e logo a seguir Portugal, com 16.297 toneladas.
Em comunicado, a Fundação Oceano Azul afirma “este importante trabalho da ANP|WWF torna visível para todos a forma insustentável como gerimos o oceano e colocamos em risco, no mar português, espécies tão importantes para o funcionamento dos sistemas marinhos como os tubarões e as raias, e constitui um fundamento sólido para que Portugal adote medidas efetivas para inverter esta situação.”
Com base nestes dados, a ANP/WWF faz sete recomendações que visam proteger as populações de elasmobrânquios no nosso país, dirigidas às autoridades, aos investigadores, aos pescadores, aos consumidores e aos distribuidores:
- “O desenvolvimento e implementação de um Plano de Ação Nacional para a gestão e conservação dos Tubarões e Raias em Portugal;
- A promoção de melhorias significativas na proteção e recuperação de stocks de espécies ameaçadas alvo e não alvo da pesca;
- A adoção de medidas de minimização de capturas acidentais e boas práticas a bordo;
- A melhoria substancial da qualidade dos dados científicos;
- A implementação de proibições/restrições ao comércio, incluindo regulamentação mais estrita, transparência e rastreabilidade dos produtos;
- Uma melhor monitorização e vigilância da pesca;
- Uma definição de áreas marinhas/zonas Santuário com proibição total de pesca, considerando densidade de espécies e habitats essenciais para tubarões e raias.”
Ana Henriques, especialista em Oceanos e Pescas na ANP|WWF e principal autora do relatório, explica que “um oceano sem tubarões e raias é um oceano vazio e moribundo. Estas espécies são fulcrais para uma boa gestão dos ecossistemas marinhos – são verdadeiros Guardiões do oceano. Reduzir o seu consumo, reduzir capturas acidentais, aumentar o conhecimento sobre as espécies e formular um Plano integrado, fundamentado no melhor conhecimento disponível e que contemple as várias ameaças a par com a sua conservação é uma abordagem estratégica, urgente e muito necessária”.