Portuguesa analisa microplásticos na água oriundos da roupa usada enviada para o Gana



Uma expedição em que participa uma portuguesa percorreu 450 quilómetros no Lago Volta, no Gana, onde recolheu amostras de água para analisar a contaminação por microplásticos provenientes das toneladas de roupa usada que são enviadas pelos países ricos.

Engenheira do ambiente, Isabel Abreu é uma portuguesa nascida em Moçambique que conhece bem o continente africano e há anos acompanha, com apreensão, o impacto das roupas usadas que são enviadas para o Gana e, dado o seu mau estado, terminam em lixeiras, no mar, rios e lados.

Os resíduos têxteis são visíveis no país, onde existem os maiores mercados de roupa usada do mundo, mas a expedição em que Isabel Abreu participa tem o foco no Lago Volta, um dos maiores lagos artificiais e o maior reservatório de água, em área de superfície, do mundo.

É lá que a Fundação Or, uma organização sediada no Gana que trabalha em prol da justiça ambiental e que procura alternativas ao modelo dominante da moda, que é a sua destruição, tem recolhido amostras de água e ar, pois é um dos destinos finais de toneladas de roupa que ali terminam um percurso, iniciado quando são adquiridas nos países ricos (Estados Unidos e Europa), antes de serem doadas e mais tarde compradas por ganeses.

Em declarações à agência Lusa, a ativista recordou que a água do mar e dos lagos sempre foi fonte de alimento e de abastecimento de água para a população ganesa, mas em virtude do lixo proveniente dos produtos encaminhados por países ricos, está hoje ameaçada.

Nos últimos meses, Isabel Abreu e os colegas da fundação recolheram dezenas de amostras das águas deste lago e também do ar, que foram depois encaminhadas para um laboratório ganês, embora algumas das análises sejam realizadas na Europa.

Numa primeira fase foi observada, no terreno, a “contaminação orgânica junto das aldeias à beira do lago”, mas as amostras ainda não foram processadas.

Os resultados das análises deverão ser conhecidos dentro de três a quatro meses, não existindo ainda qualquer informação sobre as micropartículas de plástico, que têm origem nas roupas que usam plásticos na sua composição.

O que for encontrado servirá de base para a solicitação de uma regulamentação que sirva para “impedir que os resíduos de roupa” continuem a chegar de forma contínua, invadindo as lixeiras, o mar, os rios e os lagos, disse.

Joe Ayesu, gestor de investigação ecológica da Fundação Or, que está a supervisionar o projeto, escreveu no ‘site’ oficial da organização que, apesar de os resultados finais ainda estarem longe, “até agora a investigação parece apoiar a hipótese de que a poluição por microfibras em Acra e arredores é bastante elevada”.

Isabel Abreu esclarece: “Não queremos que pare a importação de roupas em segunda mão, porque as pessoas precisam, mas que não venha o que é considerado lixo”.

As roupas que chegam em mau estado estão a inundar as lixeiras destes países, que são cada vez maiores, com fogos naturais que resultam dos gases provenientes dos resíduos.

Mas muitas acabam no mar, onde compõem redes de tecidos gigantes, impossíveis de tirar da água, onde se juntam a plásticos e formam autênticas armadilhas para os animais, além de libertarem fibras de plástico, que hoje em dia compõem muitas das roupas baratas.

Dados da Agência Europeia do Ambiente (AEA) indicam que os têxteis são hoje responsáveis por até 35% dos microplásticos primários libertados para o ambiente e que todos os anos meio milhão de toneladas de microfibras resultantes da lavagem de roupas sintéticas são despejadas no oceano todos os anos.

Além desta expedição, a Fundação Or organizou uma petição que recolheu assinaturas até à passada quinta-feira e que visa a mudança das políticas na área da exportação de roupa usada e responsabilizar os produtores de roupa por uma produção sustentável.





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