PR moçambicano critica relutância em cumprir Acordo de Paris entre países industrializados
O Presidente moçambicano criticou hoje a relutância de países industrializados em cumprir o Acordo de Paris sobre o clima, assinalando que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) está entre os mais afetados pelas mudanças climáticas.
“Para que a meta […] seja atingida, as emissões de dióxido de carbono devem ser reduzidas em 45% até 2030, o que será difícil devido à relutância dos países industrializados em cumprir o Acordo de Paris”, declarou Filipe Nyusi, durante a abertura do VII Congresso Internacional de Educação Ambiental de Países da CPLP e Galiza.
Para o chefe de Estado moçambicano, a emissão de dióxido de carbono prevalece o principal fator da ocorrência cíclica dos desastres naturais, que afetam principalmente os países que menos poluem, incluindo os membros da CPLP.
“Estes desastres afetam mais os países que menos poluem, como os da CPLP, Galiza e, em particular, Moçambique”, declarou Filipe Nyusi.
Entre os desastres naturais que afetaram Moçambique nos últimos três anos, Filipe Nyusi destacou o rastro de destruição deixado pela passagem, em 2019, do ciclone Idai, com danos estimados pelo Governo moçambicano em cerca de 3,2 mil milhões de dólares (2,9 mil milhões de euros).
“No caso específico de Moçambique, a situação é agravada pela sua localização geográfica, numa zona de convergência de correntes quentes dos oceanos Índico e Atlântico”, frisou o chefe de Estado moçambicano.
Também o secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas português admitiu que os países que menos poluem são os mais afetados pelas alterações climáticas, destacando, no entanto, a importância da coordenação para que se atinjam os objetivos do Acordo de Paris.
“Precisamos de servir de exemplo para os países mais poluidores. Também precisamos que os países mais poluidores ajudem aos países menos poluidores a manterem esta biodiversidade, que é uma característica dos países da CPLP”, frisou João Paulo Catarino.
O governante português considera que o Acordo de Paris continua a ser uma “prioridade absoluta”, sustentando que a Europa já percebeu que não se podem adiar mais as medidas definidas.
“O risco de incêndios em Portugal vai aumentar substancialmente nos próximos anos se isto continuar. Ou seja, não podemos adiar mais as medidas que temos de tomar. No âmbito da redução das emissões do CO2, temos vindo a fazer progressos enormes: Portugal hoje já produz por volta de 60% da sua energia a partir de métodos renováveis”, concluiu João Paulo Catarino.
O Acordo de Paris, em vigor desde 2016, estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7ºC.
O VII Congresso Internacional de Educação Ambiental de Países da CPLP e Galiza vai decorrer até quinta-feira em Maputo, juntando mais de 500 participantes, maioritariamente de delegações de países da lusofonia.