Heróis PME. “A sustentabilidade é transversal a qualquer organização, independentemente do setor de atividade”, afirma Miguel Martins



As inscrições para os Heróis PME, iniciativa da Yunit Consulting que pretende distinguir as PME nacionais pela sua coragem e capacidade de inovação, terminam já esta sexta-feira. Este ano estão em concurso duas novas categorias, a Factor S(Sustentabilidade) e a Transformação Digital.

Em entrevista à Green Savers, Miguel J. Martins, Sustainable Investments Partner da Grosvenor – empresa mentora da categoria Factor S(Sustentabilidade) – explica o que faz de uma PME uma autêntica vencedora nesta vertente, e o valor que este fator pode dar à mesma no mercado.

A Grosvenor é mentora na categoria Factor S(Sustentabilidade) da iniciativa Hérois PME. Para si, o que faz de um candidato/projeto, um autêntico vencedor da mesma?

Iremos olhar para todos os candidatos seguindo três grandes critérios: Inovação, Compliance com Critérios ESG e Escalabilidade e Impactos. No pilar Inovação, o nosso principal foco será perceber que tipo de modelo de negócio foi utilizado, se há alguns fatores novidade que foram aplicados na sua estruturação (sejam eles a utilização de novas métricas, particularmente métricas ESG, ou um blend nos tipos de fontes de financiamento), quais os fatores novidade no projeto e como colmatam gaps no mercado, assim como a aplicação de tecnologia utilizada.

No pilar Compliance com critérios ESG, aplicaremos KPIs para cada uma destas vertentes e olharemos para estas métricas não só de um ponto de vista de gestão de riscos, mas também de oportunidades.

Por último, no pilar Escalabilidade e Impactos, analisaremos os impactos do projeto nas comunidades e ambiente, averiguaremos a escalabilidade e replicabilidade do projeto num contexto nacional, regional e internacional, e por último, olharemos para a sustentabilidade financeira do projeto, porque para nós sustentabilidade inevitavelmente inclui a vertente financeira.

A sustentabilidade é atualmente um compromisso obrigatório para as empresas que pode, inclusive, ditar o seu sucesso. No caso das PME, isto aplica-se? O que é preciso para que sigam este caminho?

No nosso entender, a resposta é um inequívoco sim. A sustentabilidade é transversal a qualquer organização, independentemente do sector de atividade, localização geográfica ou dimensão. É uma postura que, por um lado, se foca em criar valor através da minimização de riscos e maximização de oportunidades, que é inclusiva de todos os stakeholders que compõem a cadeia de valor da organização, e que se foca no médio e longo prazo contribuindo para a prosperidade não só da organização, mas também da economia e da sociedade.

Para seguir este caminho, a sustentabilidade deverá ser colocada ao mais alto nível na estrutura da organização: nos melhores exemplos que conhecemos, a sustentabilidade assume sempre uma postura “top-down”. Torna-se assim mais fácil definir uma estratégia holística que integra sustentabilidade no ADN da organização, em vez de num documento à parte, assegurando o comprometimento de todos aqueles com capacidade decisória para com a gestão das variáveis acima enumeradas.

Será este percurso mais difícil de implementar para as PME?

É um percurso diferente com desafios diferentes, mas permito-me dizer que acredito seja mais fácil nas PME. O maior desafio para as PME é o de agregar recursos, sejam eles humanos sejam financeiros, que facilitem a formação de quadros e o tratamento de dados e de informação, sejam eles internos ou externos, que possam ser utilizados na estruturação de estratégias e políticas de sustentabilidade. Uma vez ultrapassado este processo e entrando na fase de implementação, o percurso tende a ser mais ágil e rápido devido à dimensão mais reduzida da organização e do universo de stakeholders.

Considera que as PME podem ser um grande incentivo na transição para a neutralidade carbónica? Ou esse poder vem das grandes empresas?

De um ponto de vista de volume, é difícil competir com as grandes empresas e com os impactos que estas podem ter, uma vez definidas estratégias de transição para a neutralidade carbónica. Contudo, o poder das PME reside no facto de poderem vir a assumir a liderança nesta transição e até mesmo serem vistas como agentes de mudança que estruturam soluções “state-of-the-art” que podem ser vistas como exemplos a seguir pelas grandes empresas.

Pode mencionar alguns exemplos de PME que estejam a adotar estratégias alinhadas com a sustentabilidade?

Na Grosvenor, temos felizmente a oportunidade de conhecer vários bons exemplos de PME de excelência, com práticas acima da média, nestas vertentes. Se olharmos para o universo de projetos que analisamos, na sua grande maioria PME, vemos claramente exemplos de organizações preocupadas em fazer negócios de forma mais responsável, sustentável e inclusiva. Nalguns casos, o conhecimento e a preocupação com a sustentabilidade, é claramente um exemplo de liderança que está indubitavelmente acima da média do mercado.

Nestes tipos de casos, o papel da Grosvenor não é tanto o de trabalhar com os projetos na definição de uma estratégia e de um sistema de gestão de sustentabilidade, mas sim o de validar o que já existe.





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