Produtores de leite revoltados com redução de 5 cêntimos do preço pago à produção
Os produtores de leite manifestaram ontem “surpresa e revolta” com a anunciada redução de cinco cêntimos, a partir de segunda-feira, do preço pago ao produtor pelas cooperativas associadas da Lactogal e pela Parmalat Portugal.
“Na semana em que se tornou efetivo o ‘IVA zero’ e algumas marcas e superfícies comerciais anunciaram que ‘baixaram os preços mais do que o IVA’, os produtores de leite que fornecem as cooperativas associadas da Lactogal, bem como outras indústrias, nomeadamente a Parmalat Portugal, foram informados sobre a redução de cinco cêntimos no preço por litro de leite ao produtor a partir de 01 de maio”, avança a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) em comunicado.
Para a associação, “mais uma vez” os produtores estão a ser “obrigados a ‘pagar’ já as promoções, sem terem ainda recebido qualquer ajuda prometida”.
Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral da Aprolep afirma que “esta redução causou surpresa e revolta nos produtores, em particular do setor cooperativo”.
Isto porque, segundo Carlos Neves, em 2022, e por diversas ocasiões, os produtores do setor cooperativo “foram os últimos a ver o preço atualizado”, tendo ficado “a receber menos do que os produtores que fornecem empresas privadas”.
Neste contexto, os produtores “tinham a expectativa que a maior empresa de laticínios em Portugal [Lactogal], que pertence às cooperativas, tivesse agora vontade e capacidade para liderar pelo exemplo e aguentar o preço, de modo a corrigir as injustiças dos últimos meses e anos”.
O dirigente associativo nota que, comprando as cooperativas associadas da Lactogal 70% do leite em Portugal, o preço pago por este grupo “é o valor de referência utilizado por todos os compradores”, porque “as empresas privadas não sentem a obrigação de pagar mais do que paga a cooperativa que é dos agricultores”.
Segundo Carlos Neves, esta descida do preço pago ao produtor ocorre “na altura de maior despesa” dos agricultores com as colheitas das forragens de inverno e sementeiras do milho, juntando-se aos “elevados custos das rações as despesas com combustíveis, adubos, sementes e fitofármacos”.
“Estamos muito preocupados. Estamos a ter menos produção de forragens e a palha, vinda de Espanha, que precisamos de comprar tanto para as camas dos animais, como para os alimentar está a subir o preço todos os dias porque há uma grande seca em Espanha”, salienta.
“A alternativa, que seria comprar forragem vinda de Espanha, está a subir o preço e, por isso, estamos preocupados com esta situação”, acrescenta.
Neste contexto, a Aprolep sustenta que, “sem produção suficiente e sem dinheiro suficiente para comprar alimentos para os animais, os produtores serão obrigados a enviar animais para abate, reduzindo ou encerrando a sua produção”, e avisa que tal “poderá levar à falta de leite para abastecer a indústria nacional a breve prazo”.
“Não é assim que se defende a produção nacional”, remata a associação.