Produtores lamentam que pecuária seja considerada causa das alterações climáticas



A associação de produtores de bovinos de Montemor-o-Novo defendeu hoje, em Espanha, que a pecuária foi considerada como uma das causas das alterações climáticas, o que contestou, deixando criticas ao Governo de Portugal e a Bruxelas.

“Sou um acérrimo defensor dos valores, tradições e da economia do nosso mundo rural, que tão mal tratado tem sido por quem nos dirige a nível nacional e europeu nos últimos anos, o que se traduziu numa desvalorização muito grande da nossa pecuária, a mais prejudicada na revisão da Política Agrícola Comum [PAC], que entrou em vigor no ano passado”, afirmou Joaquim Capoulas, presidente da associação de produtores de bovinos, ovinos e caprinos de Montemor-O-Novo (Apormor), na quarta edição do Congresso Ibérico Agropecuário e Florestal (CIAF), que decorre em Cáceres, Espanha.

O CIAF é organizado, anualmente, pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), em conjunto com a sua congénere Espanhola Associación Agraria Jóvenes Agricultores (ASAJA).

Joaquim Capoulas defendeu que o agroalimentar deixou de ser visto como fundamental para a nossa soberania porque se pensou que a globalização “resolveria tudo”.

A pecuária, conforme apontou, foi considerada como uma das causas das alterações climáticas, quando os “ecossistemas rurais são positivos para a captação de carbono”.

Contudo, vincou que os próprios produtores devem ser capazes de demonstrar que o seu trabalho é positivo, distanciando-se do “selo que lhe querem implementar”.

O também produtor de gado, que integra a CAP, lamentou ainda o fosso entre o mundo rural e o urbano.

“Os votos que os políticos procuram estão muito mais nas cidades do que no que no campo. O nosso Alentejo corresponde a um terço da área de Portugal e só tem oito deputados em 230. Estamos num tempo e num mundo em que parece que está tudo ao contrário”, referiu.

Na mesma sessão, Juan Luis Delgado da Asaja indicou que, nos últimos quatro anos, houve uma redução de quase 500.000 cabeças de bovinos em Espanha e de 1.200 em toda a Europa.

Na abertura formal do congresso, a ex-ministra da Agricultura, Pesca, Alimentação e Meio Ambiente de Espanha, Isabel Garcia Tejerina, recordou que a pandemia de covid-19 veio evidenciar a importância das cadeias de valor estratégicas, como a agricultura, mas a guerra na Ucrânia também mostrou que estas cadeias não são tão sustentáveis quanto seria desejado.

Assim, “conservar, consolidar e acrescentar a mais estratégica das cadeias de valor, que é a da alimentação, é tão necessário que fico surpreendida por isto ainda ter de ser reivindicado”, disse a antiga governante.

Por outro lado, notou que a luta contra as alterações climáticas obriga à prática de “uma nova agricultura”, uma vez que a resistência da cadeia alimentar não será possível sem água para as plantas e para os animais.

Isabel Garcia Tejerina disse ainda que as alterações climáticas vão afetar os mapas de cultivo “num futuro quase imediato”, o que acrescentará volatilidade às colheitas.

“O solo deverá ser considerado não apenas como o suporte das plantas, mas como um agente decisivo na luta contra as alterações climáticas”, apontou, pedindo respostas para uma produção em maior quantidade, mas com mais qualidade e de forma sustentável.

“O meu desejo para todos é que cada uma das forças que constroem o futuro tenham a ambição que o setor agroalimentar espanhol e português merece”, rematou.

*** A Lusa viajou para Cáceres a convite da CAP ***





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