Produtos de canábis podem ajudar a reduzir agressividade em cães, sugerem investigadores
O uso prolongado de produtos derivados de canábis, como o CBD, pode contribuir para diminuir comportamentos agressivos em cães, segundo um estudo internacional baseado em dados de mais de 47 mil donos norte-americanos. Os investigadores notaram que, embora estes animais apresentassem inicialmente níveis de agressividade superiores à média, ao longo do tempo passaram a revelar comportamentos mais calmos. A equipa alerta, no entanto, que serão necessários estudos adicionais para confirmar estes efeitos.
Publicado na revista Frontiers in Veterinary Science, o trabalho analisou informação recolhida pelo Dog Aging Project, um projeto de ciência colaborativa que acompanha a saúde e o envelhecimento dos cães nos EUA. Dos mais de 47 mil animais avaliados, 7,3% tinham recebido suplementos de CBD ou cânhamo, sendo maioritariamente cães mais velhos ou com problemas de saúde.
“Os cães que recebem produtos de CBD durante vários anos são, numa fase inicial, mais agressivos do que os restantes, mas essa agressividade tende a diminuir com o tempo”, explica o autor sénior do estudo, Maxwell Leung, da Universidade Estadual do Arizona. Para a equipa, esta evolução “destaca o potencial do CBD enquanto terapia para problemas comportamentais caninos”, comenta também Julia Albright, da Universidade do Tennessee.
O estudo identificou ainda que os suplementos eram mais comuns em cães com demência (18,2%), osteoartrite (12,5%) e cancro (10%). Os investigadores notaram também uma maior utilização em estados onde o uso de canábis medicinal é legal, sugerindo que a familiaridade dos donos com estes produtos influencia a sua decisão. Contudo, apesar de verificarem melhorias na agressividade, não foram encontradas mudanças relevantes noutros comportamentos ligados ao stress ou ansiedade. “É pouco claro porque só a agressividade, e não outros comportamentos ansiosos, parece melhorar com o CBD”, admite Albright.
A equipa sublinha igualmente várias limitações: os dados são reportados pelos donos, não há informação sobre doses ou formulações e o estudo é apenas observacional. Por isso, os cientistas recomendam cautela. “Neste momento, não temos ainda um quadro completo sobre os planos de tratamento comportamental”, nota Albright, alertando também para potenciais efeitos adversos, como perturbações gastrointestinais. Ainda assim, Leung acredita que estes resultados podem abrir caminho a novas abordagens terapêuticas. “Existem muitas semelhanças na forma como o CBD pode beneficiar cães e humanos do ponto de vista médico”, afirma.
Os autores defendem que o estudo serve como ponto de partida para compreender melhor o papel do CBD em questões de saúde e comportamento em animais de companhia — especialmente numa população canina envelhecida que enfrenta desafios cada vez mais semelhantes aos dos seus donos.