Progressos na erradicação da pobreza em risco, diz a Fundação Gates



Um relatório da Fundação Bill e Melinda Gates sobre a luta mundial contra a pobreza, divulgado esta quarta-feira (dia 13), alerta para os riscos de falharmos os objectivos na luta mundial contra a pobreza traçados pelas Nações Unidas para 2030.

Segundo este documento, mesmo num cenário optimista, as incidências de pobreza, mortalidade materna, mortalidade infantil, subdesenvolvimento infantil, infecção por HIV e tuberculose vão ficar muito acima das metas estabelecidas pelos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (SDG) (desdobrados em 169 metas) fixados há dois anos numa memorável cimeira da ONU.

Com muitos milhões de dólares gastos nos últimos 15 anos em programas de desenvolvimento sustentável, o casal pretende publicar todos os anos um relatório para “avaliar o progresso, com o objectivo de saber o que funciona e o que não funciona”, dizendo de forma clara e objectiva “se o mundo está a progredir, estagnar ou regredir”, explica a fundação em comunicado. Mas além de estatísticas, este relatório pretende mostrar as histórias que estão por detrás dos números. 

O casal menciona a mortalidade infantil como um indicador do progresso de iniciativas de combate à pobreza. “Com base nos dados globais de mortalidade infantil, o mundo está no caminho certo”, escreve Melinda. “Nos anos em que trabalhei na saúde global, o número de mortes de crianças caiu todos os anos. Muito. Em 2016 morreram menos seis milhões menos de crianças morreram do que em 1990. Isso é mais do que o número total de crianças na França”. A mortalidade infantil é uma área onde a vacinação e outros esforços produziram progressos significativos nos últimos 25 anos, dando o exemplo do Malawi, onde em 1990 uma em cada quatro crianças morria antes de atingir os cinco anos de idade, enquanto hoje esse número reduziu para uma em cada 16 crianças. No entanto muito ainda falta ser feito. “Cerca de 20 milhões de crianças em todo o mundo permanecem sem qualquer imunização”.

“O mundo fez um grande progresso na luta contra a pobreza desde 1990, mas ainda há muito por fazer”, disse Bill Gates à imprensa, sublinhando que “os cortes propostos no orçamento dos Estados Unidos podem pôr em perigo grandes progressos na redução da pobreza e doenças globais e levar a mais cinco milhões de mortes por sida”, numa referência clara às políticas de Donald Trump.

O HIV, que actualmente infecta quase 37 milhões de pessoas em todo o mundo, é um “exemplo icónico”, porque se é verdade que as mortes (anuais) relacionadas com a SIDA caíram quase uma metade desde o pico em 2005, um corte de 10% no financiamento global para o tratamento desta doença pode significar mais de 5 milhões de mortes extras até 2030.

O relatório aborda temas como o planeamento familiar (o Senegal é dado como modelo, já que em 1990, apenas 3% das mulheres no país usavam contracepção, numero que, em 2016, cresceu para 15% através de acções de mobilização e consciencialização), mas refere outros exemplos, em áreas como a má nutrição infantil, mortalidade materna, malária, tuberculose, ou acesso da população pobre a serviços financeiros.

O relatório da Fundação Gates –  intitulado “Goalkeepers” – foi lançado no momento em que a Assembleia Geral das Nações Unidas se prepara para seu encontro anual em Nova Iorque, um evento paralelo ao debate dos chefes de Estado onde se discutem as várias estratégias para o cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. O que não acontece por acaso, claro.

Para Bill e Melinda Gates, “Este relatório serve de alerta para alguns líderes de certos países. Há muito trabalho a ser feito, e nós temos que arregaçar as mangas. (…) É um facto que a doença e a pobreza são solucionáveis. Convidamos todos a concentrarem-se na parte solucionável da equação. Nós temos o poder de decidir o quanto pode ser resolvido. Vamos ser ambiciosos. Vamos liderar.” E concluem: “Vamos publicar este relatório todos os anos até 2030, porque queremos inspirar os líderes, mostrando o que é possível e armá-los com evidências e informações sobre a forma como podem ser mais eficazes.”

Foto: Wiki Commons





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