Projecto internacional estuda a decomposição das folhas no solo usando… saquinhos de chá



 

Há um projecto internacional que está a estudar como é que as condições do ambiente influenciam a decomposição das folhas mortas de plantas caídas no solo, usando… saquinhos de chá. Ao longo de três anos, cientistas estudaram como reagem diferentes chás à volta do mundo.

Com o apoio da empresa Unilever, o projecto TeaComposition mostra agora ao público os resultados alcançados durante os últimos três anos. Estes resultados irão permitir pela primeira vez compreender de forma padronizada este processo fundamental que permite a reposição dos nutrientes do solo ao nível global.

Olhando com atenção num qualquer jardim ou espaço verde, observamos uma fina camada de folhas mortas caídas no solo. A decomposição ao longo do tempo desta camada – a que também se chama folhada – é auxiliada por microrganismos, como fungos ou bactérias, e permite repor os nutrientes do solo, fundamentais para as plantas.

Os estudos experimentais realizados até agora para analisar este processo não permitiam a comparação de resultados, pois eram realizados com diferentes metodologias e diferentes tipos de folhada, dependendo do local onde eram realizados.

Ora, o projecto TeaComposition propõe-se estudar este problema com… saquinhos de chá, que replicam as folhas caídas. Colocando os mesmos dois tipos de chá – verde e rooibos – em diferentes regiões do globo, os investigadores podem analisar como é que diferentes folhas se degradam comparativamente e qual a influência do ambiente.

Corria o Verão de 2016, quando milhares de saquinhos de chá foram enterrados em 336 regiões do planeta distribuídas por todos os continentes. Factores como temperatura, humidade e tipo de solo foram tidos em conta, na análise feita pela ILTER – International Long Term Ecological Research network.

A Companhia das Lezírias (Benavente) e Ria de Aveiro, ambos parte da rede ILTER, são os representantes de Portugal nesta experiência. Os primeiros resultados, com a avaliação dos factores que influenciam a decomposição nos primeiros três meses, foram agora publicados na revista científica Science of the Total Environment.

Os resultados foram surpreendentes. “As folhas de chá verde têm um elevado teor de celulose e, por isso, já esperávamos que tivesse uma decomposição rápida; já as folhas de chá rooibos têm mais lignina e, por isso, esperávamos uma decomposição lenta”, explica Helena Serrano, investigadora do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

“Estes resultados indicam que o factor mais importante que explica a taxa de decomposição nos primeiros três meses é a composição da folhada, que explica 65% da variabilidade dos resultados a nível mundial. O efeito do clima é mais ténue – só tem efeito significativo em condições muito desfavoráveis, por exemplo pouca humidade; e o tipo de uso dado ao solo também não mostrou efeitos significativos nesta primeira apreciação dos resultados. No entanto, os próximos resultados, com os dados para a decomposição ao longo de um, dois e três anos, podem revelar que outros factores se tornam mais prevalentes para explicar a decomposição desta folhada”, acrescenta a investigadora.

Em colaboração com a equipa internacional, os investigadores estão agora a tratar os dados relativos às medições que realizaram em Junho de 2017, quando a experiência completou um ano; as medições seguintes estão previstas para Junho de 2018 e Junho de 2019, momento em que se prevê o final da fase experimental do projecto.

“Factores como as alterações climáticas, ou o excesso de fertilização, podem contribuir para alterar as taxas de decomposição, por isso é muito importante estudarmos este processo não só à escala local como também à escala global. Ao utilizarmos saquinhos de chá iguais em todo o mundo garantimos que o que estamos a ver depende apenas do solo e do clima, numa escala global”, conclui Cristina Branquinho, investigadora do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e responsável pela realização do estudo em Portugal.

Foto: via Creative Commons 





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