Projeto procura arrefecer favelas do Rio de Janeiro com telhados verdes
É verão no Rio de Janeiro e o calor que se concentra nas estreitas favelas sufoca. Renovar esses ambientes de forma sustentável é o objetivo do Teto Verde Favela, um projeto que nasceu no seio dos bairros brasileiros inspirado em países europeus.
Também conhecidos como jardins aéreos, os telhados verdes são considerados “pulmões urbanos” para melhorar a qualidade ambiental em cidades onde o cimento prevalece e a vegetação é extinta.
Luís Cassiano, fundador da Teto Verde Favela, descobriu esses benefícios há seis anos, após sofrer com as altas temperaturas que se concentravam na sua casa, uma de tantas no ‘Parque Arará’.
Esta favela, repleta de comércio e onde vivem cerca de 9.000 pessoas em ruas estreitas e sem áreas verdes para respirar, está localizada na zona norte do Rio, longe do mar e em terras que há anos abrigavam um manguezal.
Amante das plantas e da natureza, Cassiano encontrou a solução para o seu problema nos telhados verdes. Depois de estudar exaustivamente a metodologia, começou a plantar o seu próprio jardim no topo do telhado que cobre a sua casa.
Desde então, a pequena ‘selva urbana’ que cobre a sua casa, composta de bromélias, cactos, suculentas e até palmeiras, oferece-lhe um bem-estar que antes não conhecia, em troca de água e amor.
“Não sei viver sem aquele telhado”, frisou Cassiano à Agência Efe, que, aos 51 anos, confessa que teria enlouquecido sem o frescor que aquele jardim lhe dá todos os dias.
“A sua maior importância reside na forma como consegue a diferença de temperatura. Sou uma pessoa que sente muito calor e sem aquele tecto não poderia ficar aqui. Quando o implementei, fiz para me aliviar, porque não suportava voltar do trabalho e ter tanto calor aqui ”, frisou.
O “fresquinho” de que fala Cassiano é sentido logo ao entrar na sua casa e a temperatura desce ainda mais no último andar, onde o clima fica entre 10 e 15 graus Celsius mais frio do que indica o termómetro externo.
Por ter vivenciado em primeira mão as virtudes do seu telhado verde, Cassiano quis replicar a ideia em outras casas da comunidade, pois estes tipos de jardins também ajudam a prevenir inundações, melhorar a qualidade do ar, ajudar a reduzir o consumo de energia e transformar estruturas de betão e tijolo em espaços “mais bonitos”.
Segundo o ambientalista, promover a implantação destas coberturas na favela não tem sido fácil, pois este tipos de projetos são de longo prazo e as pessoas querem “benefícios imediatos”.
Somam-se a isso os cuidados diários com a sua manutenção, que é vista por muitos como escravidão, e os custos da sua realização, que a população da favela não costuma priorizar e menos agora quando a pandemia do coronavírus deixou muitos sem trabalho.
Os valores podem até ser reduzidos com compras por atacado se houver participação coletiva no projeto, mas a realidade é outra e por isso, além de ensinar as técnicas de implantação de telhados verdes, é preciso educar a população sobre o meio ambiente.